quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

#8

Se você não gosta de praia, não vá para uma despreparado. Aprendi isso na prática. Estou no litoral faz umas duas semanas, e apesar de trabalhar num sex shop nessas áreas paradisíacas (pode rir, vai), o que teoricamente pode ser muito legal, eu já li uns seis, sete ou sei lá quantos livros nos meus momentos de tédio.

Ainda não sei o que me fez ter vontade de escrever mais uma edição ainda esse ano. Talvez seja o clima quente contagiante (isso é mentira), talvez seja a quantidade de livros que li na última semana (mais do que nos últimos dois meses juntos!), talvez seja para falar o quanto os livros mudaram minha vida esse ano, mas, provavelmente, o motivo maior seja o Bukowski. Depois de ler Notas de um velho safado, percebi que isso aqui perdeu o brilho, isso, se algum dia ele teve um.

Comecei esse blog empolgado depois de ler o Frenesi Polissilábico do Hornby, que por sinal foi um dos livros mais legais que li esse ano, suas críticas literárias realmente me animaram e me fizeram ler e escrever muito mais. Mas depois de um tempo virei um preguiçoso. Tá, nem tudo foi preguiça, mas ela, provavelmente a maior culpada disso, contribuiu diretamente para o comodismo nessa coluna.

É verdade também que nesse meio tempo algumas coisas que li, vi ou ouvi também mudaram meus planos durante o ano, por exemplo, o On the Road, do Kerouac. Se não fosse ele eu não teria viajado tanto em 2010. Ao longo do ano passei algumas cidades, peguei algumas caronas e, pô, sei lá, não foi nada tão grande quanto eu queria, e muito menos tão legal quanto a loucura do livro, mas foi bacana e ainda tá sendo.

Mas vamos lá, nessa última edição do ano, como despedida de 2010, vou falar sobre alguns dos livros que li aqui na praia até agora (pretendo ler mais alguns antes de sair daqui). Além do Notas de um velho safado, do Bukowski, li também Do amor e outros demônios, do Gabriel García Márquez, 1933 foi um ano ruim, do John Fante, Caprichos & Relaxos, do Paulo Leminski, Demian, do Hermann Hesse e Velho e o Mar, do Ernest Hemingway. Na real, não tem muito o que falar sobre eles, só tem fodão, clássico, ganhador de prêmio Nobel de literatura e essas coisas todas.

Comecei Do amor e outros demônios ainda em Curitiba, um pouco antes de vir pra cá. Não tava preparado pra ele ainda, foi difícil começar. Mas cara, ler deitado numa rede sentindo a brisa do mar é tão bom quanto clichê. Gabriel García Márquez desceu como água. E foi legal. Não preciso dizer o quanto o autor é bom, toda a crítica faz isso há anos. Só queria ressaltar a habilidade que o cara tem de criar algo crítico, cruel, inteligente e sensível, tudo ao mesmo tempo! Pouca gente consegue fazer isso. Ele faz, e faz muito bem. Deixe de ser um preguiçoso como eu, siga os conselhos do meu bom e velho amigo Wilame Prado e leia Gabriel García Márquez!

No meio das minhas férias de trabalhador no litoral, resolvi tirar umas férias das férias e peguei um ônibus para encontrar uns amigos. Durante os 220km da lenta viagem comandada por um motorista vagaroso li O Velho e o Mar, do Hemingway. Esse é outro dos fodões com prêmios, condecorações e citações espalhadas por aí. E tá, até que faz sentido, não é ruim. O que mais me impressionou na real foi a proeza do cara de escrever, sei lá, 90 páginas, sobre a luta de um pescador com um único peixe! Sério, ele faz isso sem ficar cansativo! 90 páginas e um só peixe! Isca, profundidade, fisgada, puxa corda, dá linha, espera o peixe cansar, sabe? Isso aí. O cara é bom.

Quando voltei das férias das férias li, por motivos variados (inclusive uma crítica a minha falta de interesse por poema), Caprichos & Relaxos, do Leminski. Já carregava comigo uma admiração por ele (sabia até dizer de cabeça aquele da pedra, mar, blá blá blá, mar pra tudo quanto é lado), mas nunca tinha lido um livro inteiro dele. Só alguma coisinha aqui, outra ali, do jeito que normalmente leio poema ou mesmo poesia (não to desmerecendo, é sério). Mas pô, a experiência foi legal. Pretendo fazer isso mais vezes, e prometo também estudar mais sobre assunto, aprender a escrever sobre e parar de me contentar com Quadrilha, do Carlos Drummond de Andrade (eu realmente gosto daquele).

E antes que você me diga que eu gostei de tudo que li dessa vez (você não ia dizer, eu sei disso), eu aviso, o Demian, do Hermann Hesse, eu não gostei. Sério, desculpa, mas achei chato mesmo. Cansativo e tal. Li porque é clássico e porque, pessoas em que confio no gosto, tinham me indicado (com o bônus de estar catalogado na categoria “um dos meus livros favoritos” - aí rola uma pressão, né?!). Vai ver não li na época certa da vida. Livros têm disso. Um professor de literatura me disse uma vez “deixe para ler os clássicos quando estiver velho”. Não sei se esse foi o caso. Talvez devesse te lido antes o Demian, talvez não. Que seja. Li e não gostei. Sabe, não é ruim. O começo é até bom. Mas depois vira um pé no saco. Vai ver o problema é essa birra que tenho com pessoas incondicionalmente devotas a “mentores”.

Nunca tinha lido nada do John Fante (se alguém quiser me dar o Pergunte ao Pó de presente eu vou achar legal, bem legal). Meu primeiro encontro com ele foi agora, com o 1933 foi um ano ruim, um livro curtinho que conta a história de um garoto, filho de pedreiro, que sonha em ser a nova promessa do arremesso no beisebol. Não sei se dei sorte e comecei por um bom (o que eu duvido), mas eu realmente gostei do livro. Essa pegada beat, o estilo despojado e a narrativa rápida me conquistaram. Já coloquei de meta para o próximo ano ler várias outras coisas dele.

Para fechar essa última edição “surpresa” de 2010: Charles Bukowski. O responsável por me dar a última rasteira do ano (pô, se eu levar outra até amanhã, depois de tantas ao longo do ano, vou ficar realmente puto). Notas de um velho safado é uma coletânea de colunas publicadas originalmente pelo autor no Open City, um jornal alternativo que John Bryan criou depois de se demitir do e/ou ser demitido do L.A. Free Press.

Como eu já disse, foi com esse livro de colunas que eu percebi que essa aqui era uma merda. Bukowski é bom, ligeiro, cruel e não tem medo de escrever pau, cu ou boceta. Manda vê no que pensa, diz sem medo, revela seus problemas, pensamentos, estórias e opiniões. A coluna dele é viva, às vezes depressivamente viva, mas é de um jeito natural, como as coisas realmente são. Faz sentido isso? Além disso, ele é chato, ranzinza e sujo, características que me agradam muito.

É verdade que nem todas as colunas me agradaram, algumas até conseguiram me entediar, mas o lance é que tem tantas outras boas (boas o suficiente para te vender uma idéia com uma só frase) que você acaba gostando do livro como um todo. Depois de ler ele, por exemplo, já até mudei minha concepção de museus. Quero um bar e uma banda de rock em cada andar! Enfim, se você tá precisando de uma rasteira para começar bem (?) o próximo ano, corre que ainda dá tempo de ler as Notas de um velho safado.

Bom, agora eu paro por aqui. Já tenho mais algumas coisas sobre o que escrever (como aquela louca da Anaïs Nin que tá destruindo minha cabeça doentia), mas elas vão ficar para o próximo ano. Queria aproveitar e pedir desculpa a você, querido leitor. Eu sei que às vezes não entendo quem é meu público alvo (e a verdade é que eu nem tenho um). O lance é que você, que eu sei que lê isso aqui, entende mais disso tudo do que eu. Você deveria ter um blog para indicar coisas legais! Seríamos todos felizes assim. Pense nisso com carinho para o ano que vem. Até lá.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

#7

Ô aninho desgraçado. Mas 2010 tá acabando e, apesar não de criar muitas expectativas para 2011, espero que chegue logo. Mas o que você e esse blog tem com isso? Nada. Só queria deixar esse comentário caso eu não publique mais nenhuma edição esse ano. E é claro que eu não vou. Já é quase natal e a cada edição eu demoro mais para escrever alguma coisa. A verdade é que a #8 pode sair só em fevereiro, isso se ela sair.

Enfim, vamos lá. Nesse final de ano, por vários motivos, eu pirei em filmes. Vi vários, mas vou deixar quase todos de fora dessa edição. Escolhi para comentar apenas As melhores coisas do mundo, Muita calma nessa hora e Chuvas de verão. Os livros da vez são Persépolis, da Marjane Satrapi e É claro que você sabe do que estou falando, da Miranda July.

As melhores coisas do mundo é mais um fruto da parceira de Laís Bodanzky e Luís Bolognesi, ela como diretora e ele como roteirista. Juntos eles já fizeram filmes como Bicho de sete cabeças e Chega de saudade. Mas esse é diferente, ele é despretensioso. Ou não. As melhores coisas do mundo tenta fazer um filme para adolescentes, com cara de adolescente. Uma tarefa que muita gente já tentou fazer e não conseguiu. Pelo menos aqui isso funcionou. Senti mó saudade das festinhas de 15 anos, das batidinhas de morango, do clima de paquera e tantas outras coisas. A nostalgia foi praticamente incontrolável. Se você ainda não viu esse longa, tire todo o medo do seu coração, releve o fato do Fiuk ser um dos atores principais e dê uma chance de peito aberto. É sério, dá para se surpreender.

Depois de Xica da Silva e antes de Bye Bye Brasil, duas renomadas obras do cinema nacional, Carlos “Cacá” Diegues lançou Chuvas de Verão em 1977. Apesar de ser mais discreto que os outros filmes citados do autor, Chuvas de Verão é tão bacana quanto eles. De uma forma sutil, Diegues cria, ao contar a história de um homem que resolve descansar e viver, quando enfim consegue sua tão sonhada aposentadoria, uma trama cheia de personagens interessantes, repleta de estereótipos cariocas.

Muita calma nessa hora era o aguardado longa que trazia em seu elenco quase todos novos e velhos comediantes brasileiros que estão em alta no momento. Além disso, o roteiro é do Bruno Mazzeo, provavelmente o nome mais popular do humor nacional atual, ao lado, claro, do Adnet. Apesar de tudo isso o filme é fraco, bem fraco. As piadas, que por sinal são a aposta central do filme, são dignas de um episódio do Zorra Total e a história em si, só mais uma sessão da tarde. Algumas coisas ainda conseguiram ser divertidas, como a participação do Hermes e Renato, mas de uma forma geral não vale o ingresso no cinema.

Miranda July é uma dessas mulheres com mil talentos diferentes. Recentemente um amigo me emprestou um filme e um livro de contos dela. Ainda não vi o filme, mas o livro é fantástico. É claro que você do que estou falando é simples e intrigante. De uma forma geral, a impressão que eu tive enquanto lia é que estava conversando com uma mulher de uns quarenta e poucos anos que, com naturalidade e inocência, me contava coisas que ela realmente não deveria me contar. Mas não é só isso. Em cada conto ela assume uma postura, um personagem e uma personalidade diferente. Tudo isso sem perder sua identidade.

Persépolis é uma auto-biografia em quadrinhos de Marjane Satrapi, e só por isso já é bacana. A autora nasceu no Irã e vivenciou a guerra e as transformações culturais de seu país. Com o seu livro, além de trazer parte da história de seu país e de seus conflitos, ela, que foi enviada para o exterior para estudar, mostra os choques entre costumes e tradições que enfrentou na prática. Na verdade, Persépolis é muito mais legal do que isso tudo que escrevi, não sei deixe enganar. Se você ainda não escolheu o presente daquele amigo-secreto super maneiro da firma, vai sem dó e compra o livro.

Bom, eu paro por aqui. Se você leu todas as edições publicadas até hoje, muito obrigado. Se você não leu, não tem problema, gosto de você do mesmo jeito. Feliz natal, feliz ano novo e, ano que vem, assim que me animar, publico outra edição. Até lá.