quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

#8

Se você não gosta de praia, não vá para uma despreparado. Aprendi isso na prática. Estou no litoral faz umas duas semanas, e apesar de trabalhar num sex shop nessas áreas paradisíacas (pode rir, vai), o que teoricamente pode ser muito legal, eu já li uns seis, sete ou sei lá quantos livros nos meus momentos de tédio.

Ainda não sei o que me fez ter vontade de escrever mais uma edição ainda esse ano. Talvez seja o clima quente contagiante (isso é mentira), talvez seja a quantidade de livros que li na última semana (mais do que nos últimos dois meses juntos!), talvez seja para falar o quanto os livros mudaram minha vida esse ano, mas, provavelmente, o motivo maior seja o Bukowski. Depois de ler Notas de um velho safado, percebi que isso aqui perdeu o brilho, isso, se algum dia ele teve um.

Comecei esse blog empolgado depois de ler o Frenesi Polissilábico do Hornby, que por sinal foi um dos livros mais legais que li esse ano, suas críticas literárias realmente me animaram e me fizeram ler e escrever muito mais. Mas depois de um tempo virei um preguiçoso. Tá, nem tudo foi preguiça, mas ela, provavelmente a maior culpada disso, contribuiu diretamente para o comodismo nessa coluna.

É verdade também que nesse meio tempo algumas coisas que li, vi ou ouvi também mudaram meus planos durante o ano, por exemplo, o On the Road, do Kerouac. Se não fosse ele eu não teria viajado tanto em 2010. Ao longo do ano passei algumas cidades, peguei algumas caronas e, pô, sei lá, não foi nada tão grande quanto eu queria, e muito menos tão legal quanto a loucura do livro, mas foi bacana e ainda tá sendo.

Mas vamos lá, nessa última edição do ano, como despedida de 2010, vou falar sobre alguns dos livros que li aqui na praia até agora (pretendo ler mais alguns antes de sair daqui). Além do Notas de um velho safado, do Bukowski, li também Do amor e outros demônios, do Gabriel García Márquez, 1933 foi um ano ruim, do John Fante, Caprichos & Relaxos, do Paulo Leminski, Demian, do Hermann Hesse e Velho e o Mar, do Ernest Hemingway. Na real, não tem muito o que falar sobre eles, só tem fodão, clássico, ganhador de prêmio Nobel de literatura e essas coisas todas.

Comecei Do amor e outros demônios ainda em Curitiba, um pouco antes de vir pra cá. Não tava preparado pra ele ainda, foi difícil começar. Mas cara, ler deitado numa rede sentindo a brisa do mar é tão bom quanto clichê. Gabriel García Márquez desceu como água. E foi legal. Não preciso dizer o quanto o autor é bom, toda a crítica faz isso há anos. Só queria ressaltar a habilidade que o cara tem de criar algo crítico, cruel, inteligente e sensível, tudo ao mesmo tempo! Pouca gente consegue fazer isso. Ele faz, e faz muito bem. Deixe de ser um preguiçoso como eu, siga os conselhos do meu bom e velho amigo Wilame Prado e leia Gabriel García Márquez!

No meio das minhas férias de trabalhador no litoral, resolvi tirar umas férias das férias e peguei um ônibus para encontrar uns amigos. Durante os 220km da lenta viagem comandada por um motorista vagaroso li O Velho e o Mar, do Hemingway. Esse é outro dos fodões com prêmios, condecorações e citações espalhadas por aí. E tá, até que faz sentido, não é ruim. O que mais me impressionou na real foi a proeza do cara de escrever, sei lá, 90 páginas, sobre a luta de um pescador com um único peixe! Sério, ele faz isso sem ficar cansativo! 90 páginas e um só peixe! Isca, profundidade, fisgada, puxa corda, dá linha, espera o peixe cansar, sabe? Isso aí. O cara é bom.

Quando voltei das férias das férias li, por motivos variados (inclusive uma crítica a minha falta de interesse por poema), Caprichos & Relaxos, do Leminski. Já carregava comigo uma admiração por ele (sabia até dizer de cabeça aquele da pedra, mar, blá blá blá, mar pra tudo quanto é lado), mas nunca tinha lido um livro inteiro dele. Só alguma coisinha aqui, outra ali, do jeito que normalmente leio poema ou mesmo poesia (não to desmerecendo, é sério). Mas pô, a experiência foi legal. Pretendo fazer isso mais vezes, e prometo também estudar mais sobre assunto, aprender a escrever sobre e parar de me contentar com Quadrilha, do Carlos Drummond de Andrade (eu realmente gosto daquele).

E antes que você me diga que eu gostei de tudo que li dessa vez (você não ia dizer, eu sei disso), eu aviso, o Demian, do Hermann Hesse, eu não gostei. Sério, desculpa, mas achei chato mesmo. Cansativo e tal. Li porque é clássico e porque, pessoas em que confio no gosto, tinham me indicado (com o bônus de estar catalogado na categoria “um dos meus livros favoritos” - aí rola uma pressão, né?!). Vai ver não li na época certa da vida. Livros têm disso. Um professor de literatura me disse uma vez “deixe para ler os clássicos quando estiver velho”. Não sei se esse foi o caso. Talvez devesse te lido antes o Demian, talvez não. Que seja. Li e não gostei. Sabe, não é ruim. O começo é até bom. Mas depois vira um pé no saco. Vai ver o problema é essa birra que tenho com pessoas incondicionalmente devotas a “mentores”.

Nunca tinha lido nada do John Fante (se alguém quiser me dar o Pergunte ao Pó de presente eu vou achar legal, bem legal). Meu primeiro encontro com ele foi agora, com o 1933 foi um ano ruim, um livro curtinho que conta a história de um garoto, filho de pedreiro, que sonha em ser a nova promessa do arremesso no beisebol. Não sei se dei sorte e comecei por um bom (o que eu duvido), mas eu realmente gostei do livro. Essa pegada beat, o estilo despojado e a narrativa rápida me conquistaram. Já coloquei de meta para o próximo ano ler várias outras coisas dele.

Para fechar essa última edição “surpresa” de 2010: Charles Bukowski. O responsável por me dar a última rasteira do ano (pô, se eu levar outra até amanhã, depois de tantas ao longo do ano, vou ficar realmente puto). Notas de um velho safado é uma coletânea de colunas publicadas originalmente pelo autor no Open City, um jornal alternativo que John Bryan criou depois de se demitir do e/ou ser demitido do L.A. Free Press.

Como eu já disse, foi com esse livro de colunas que eu percebi que essa aqui era uma merda. Bukowski é bom, ligeiro, cruel e não tem medo de escrever pau, cu ou boceta. Manda vê no que pensa, diz sem medo, revela seus problemas, pensamentos, estórias e opiniões. A coluna dele é viva, às vezes depressivamente viva, mas é de um jeito natural, como as coisas realmente são. Faz sentido isso? Além disso, ele é chato, ranzinza e sujo, características que me agradam muito.

É verdade que nem todas as colunas me agradaram, algumas até conseguiram me entediar, mas o lance é que tem tantas outras boas (boas o suficiente para te vender uma idéia com uma só frase) que você acaba gostando do livro como um todo. Depois de ler ele, por exemplo, já até mudei minha concepção de museus. Quero um bar e uma banda de rock em cada andar! Enfim, se você tá precisando de uma rasteira para começar bem (?) o próximo ano, corre que ainda dá tempo de ler as Notas de um velho safado.

Bom, agora eu paro por aqui. Já tenho mais algumas coisas sobre o que escrever (como aquela louca da Anaïs Nin que tá destruindo minha cabeça doentia), mas elas vão ficar para o próximo ano. Queria aproveitar e pedir desculpa a você, querido leitor. Eu sei que às vezes não entendo quem é meu público alvo (e a verdade é que eu nem tenho um). O lance é que você, que eu sei que lê isso aqui, entende mais disso tudo do que eu. Você deveria ter um blog para indicar coisas legais! Seríamos todos felizes assim. Pense nisso com carinho para o ano que vem. Até lá.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

#7

Ô aninho desgraçado. Mas 2010 tá acabando e, apesar não de criar muitas expectativas para 2011, espero que chegue logo. Mas o que você e esse blog tem com isso? Nada. Só queria deixar esse comentário caso eu não publique mais nenhuma edição esse ano. E é claro que eu não vou. Já é quase natal e a cada edição eu demoro mais para escrever alguma coisa. A verdade é que a #8 pode sair só em fevereiro, isso se ela sair.

Enfim, vamos lá. Nesse final de ano, por vários motivos, eu pirei em filmes. Vi vários, mas vou deixar quase todos de fora dessa edição. Escolhi para comentar apenas As melhores coisas do mundo, Muita calma nessa hora e Chuvas de verão. Os livros da vez são Persépolis, da Marjane Satrapi e É claro que você sabe do que estou falando, da Miranda July.

As melhores coisas do mundo é mais um fruto da parceira de Laís Bodanzky e Luís Bolognesi, ela como diretora e ele como roteirista. Juntos eles já fizeram filmes como Bicho de sete cabeças e Chega de saudade. Mas esse é diferente, ele é despretensioso. Ou não. As melhores coisas do mundo tenta fazer um filme para adolescentes, com cara de adolescente. Uma tarefa que muita gente já tentou fazer e não conseguiu. Pelo menos aqui isso funcionou. Senti mó saudade das festinhas de 15 anos, das batidinhas de morango, do clima de paquera e tantas outras coisas. A nostalgia foi praticamente incontrolável. Se você ainda não viu esse longa, tire todo o medo do seu coração, releve o fato do Fiuk ser um dos atores principais e dê uma chance de peito aberto. É sério, dá para se surpreender.

Depois de Xica da Silva e antes de Bye Bye Brasil, duas renomadas obras do cinema nacional, Carlos “Cacá” Diegues lançou Chuvas de Verão em 1977. Apesar de ser mais discreto que os outros filmes citados do autor, Chuvas de Verão é tão bacana quanto eles. De uma forma sutil, Diegues cria, ao contar a história de um homem que resolve descansar e viver, quando enfim consegue sua tão sonhada aposentadoria, uma trama cheia de personagens interessantes, repleta de estereótipos cariocas.

Muita calma nessa hora era o aguardado longa que trazia em seu elenco quase todos novos e velhos comediantes brasileiros que estão em alta no momento. Além disso, o roteiro é do Bruno Mazzeo, provavelmente o nome mais popular do humor nacional atual, ao lado, claro, do Adnet. Apesar de tudo isso o filme é fraco, bem fraco. As piadas, que por sinal são a aposta central do filme, são dignas de um episódio do Zorra Total e a história em si, só mais uma sessão da tarde. Algumas coisas ainda conseguiram ser divertidas, como a participação do Hermes e Renato, mas de uma forma geral não vale o ingresso no cinema.

Miranda July é uma dessas mulheres com mil talentos diferentes. Recentemente um amigo me emprestou um filme e um livro de contos dela. Ainda não vi o filme, mas o livro é fantástico. É claro que você do que estou falando é simples e intrigante. De uma forma geral, a impressão que eu tive enquanto lia é que estava conversando com uma mulher de uns quarenta e poucos anos que, com naturalidade e inocência, me contava coisas que ela realmente não deveria me contar. Mas não é só isso. Em cada conto ela assume uma postura, um personagem e uma personalidade diferente. Tudo isso sem perder sua identidade.

Persépolis é uma auto-biografia em quadrinhos de Marjane Satrapi, e só por isso já é bacana. A autora nasceu no Irã e vivenciou a guerra e as transformações culturais de seu país. Com o seu livro, além de trazer parte da história de seu país e de seus conflitos, ela, que foi enviada para o exterior para estudar, mostra os choques entre costumes e tradições que enfrentou na prática. Na verdade, Persépolis é muito mais legal do que isso tudo que escrevi, não sei deixe enganar. Se você ainda não escolheu o presente daquele amigo-secreto super maneiro da firma, vai sem dó e compra o livro.

Bom, eu paro por aqui. Se você leu todas as edições publicadas até hoje, muito obrigado. Se você não leu, não tem problema, gosto de você do mesmo jeito. Feliz natal, feliz ano novo e, ano que vem, assim que me animar, publico outra edição. Até lá.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

#6

Mais de um mês depois da última edição, eu voltei. Em primeiro lugar gostaria de pedir desculpas para todas as pessoas que realmente lêem isso e sentiram falta de alguma novidade. Um salve especial para as três ou quatro que entram quase todos os dias. Vocês são legais.

Em segundo lugar, gostaria de me justificar de forma breve: cara, foi um mês difícil. Isso basta, né?!

E agora, vamos direto ao assunto. Nessa edição vou falar sobre os filmes Bye Bye Brasil, Machete e Entre Os Muros da Escola. Os livros escolhidos foram Uma Longa Queda, O Caso do Bolinho e Catecismo de Devoções, Intimidades e Pornografias.

Olha, não vou mentir. Durante esse mês “consumi” muitas outras coisas. Por exemplo, além desses livros ali eu ainda li os dois “Alices”. É que minha irmã foi mais uma dessas vítimas que compraram o box dos dois livros com ilustrações da Helen Oxebury depois de ver o último filme do Tim Burton. Mas não vem ao caso comentar sobre eles aqui, certo?! Quantos aos filmes, acho que fazia muito tempo que não via tantos títulos em um único mês. Mas eram comédias românticas sem importância ou clássicos que todo mundo já viu, então, também vou deixar esses de lado.

E só pra constar, sim, eu me envergonho, mas realmente li O Caso do Bolinho da Tatiana Belinky. Se você não conhece, eu vou explicar melhor o motivo da minha vergonha. O livro é daqueles infantis, recomendados para, sei lá, crianças de sete ou oito anos. Sabe aqueles que têm umas 30 páginas com quatro ou cinco linhas em cada uma?! Pois é, esse é um desses aí. Eu sei que poderia ter simplesmente ignorado aqui na coluna o fato de ter lido esse livro, já fiz isso com outros bem mais aceitáveis e tudo, mas é que o Caso do Bolinho me intrigou.

Sabe qual é o problema, ele tem mó pegada “jacaré marcou virou borsa”, saca?! Vou explicar melhor. A parada é o seguinte, tem um casal de idosos. Ele pede um bolinho, ela faz. O bolinho foge e sai por aí feliz e cantando. No meio do caminho ele encontra e engana uns três ou quatro bichos famintos. Mas aí ele encontra uma raposa que consegue enganar o tal bolinho, e pá, manda vê. Fim do livro. Bizarro, né?! Pô, fiquei pensando se é saudável contar uma criança esse tipo de história. Sabe, “ó, meu filho, não fuja de casa, se não vem alguém e te traça”.

Na verdade pensando agora desse jeito, até que faz sentido.

Tá legal, esqueçam o bolinho. Vamos falar sobre o clássico brasileiro de 1979, Bye Bye Brasil, do Cacá Diegues que, segundo uma breve pesquisa na internet, foi o primeiro longa nacional que atingiu a fantástica cifra de um milhão de dólares. O filme, resumindo de uma forma grotesca, conta a história da Caravana Rolidei e suas peregrinações pelas cidades brasileiras.

Bye Bye Brasil recebe elogios até hoje, principalmente por se mostrar atual. Mas acho ele vai além disso É um filme rico em objetos de análise, principalmente se você é um desses pirados em identidades culturais e coisas do tipo. O lance é que cada personagem foi muito bem criado e, claro, interpretado. O José Wilker manda muito bem como Lorde Cigano, o Fábio Jr. tá no estilão Fiuk de ser e a Betty Faria fica pagando peitinho o filme todo. Se fosse para usar esses clichês da imprensa cinematográfica eu diria que Bye Bye Brasil tem “humor na dose certa e críticas sutís e inteligentes sobre os estereótipos brasileiros”.

Outro filme bacana que eu vi nesses últimos dias foi o Machete. Sabe qual é?! Isso, aquele que era só um trailer migué, mas depois de vários comentários e especulações acabou se tornando real. Cara, pode ser muita pretensão da minha parte, mas vou dizer mesmo assim. Acho que Machete é o melhor filme de Robert Rodriguez. Tá, não vi todos e gosto bastante de alguns dos que já vi, mas esse é extremo.

É um culto aos clichês de filmes de ação. Um misto de trash, cult e humor, tudo em um mesmo lugar. Machete tem tudo o que você pode imaginar. Explosões, sangue, tripas, incontáveis mortes, mulheres nuas, sexo, tiros, motos voadores e frases de impacto dignas de Stallone Cobra. Isso sem contar na ótima escolha dos atores (Danny Trejo, Robert De Niro, Steven Seagal, Michelle Rodriguez, Lindsay Lohan...) que carregam outros clichês por conta própria.

Para fechar os filmes dessa edição, vi também o Entre Os Muros da Escola. Badalado longa francês do diretor Laurent Cantet que fez a cabeça de vários educadores do mundo inteiro. A história é focada na relação professor x aluno e as multiculturalidades existentes dentro de uma sala de aula.

Esse é o tipo de filme ideal para professores e parece que eles já perceberam isso. Tentei indicar para alguns amigos que estão se formando em cursos de licenciatura, mas todos eles já tinham visto. A única pessoa que não tinha me disse com uma voz triste, “é, faltei nessa aula”. Enfim, tá tudo certo. Se você é ou será professor, assista. Pode ser uma experiência bacana e traumatizante.

Mais uma vez li um Nick Hornby. Dessa vez, Uma Longa Queda. Esse é um pouco diferente dos demais. Apesar de citar ao longo do texto alguns autores conhecidos, não são tantas as referências ao mundo pop sempre muito explorado em seus livros. Apesar disso, outra característica marcante em suas obras (e talvez vida), a depressão, é a linha condutora dessa vez.

Uma Longa Queda conta a história de quatro pessoas que, na noite de ano novo, quando pretendiam se matar, se encontram no terraço de um prédio e resolvem se ajudar. O bacana mesmo é o formato do livro. Ele é escrito no estilo de um documentário. Imagine entrevistas com esses quatro personagens, que foram picotadas e organizadas em uma ordem cronológica, fazendo com que eles mesmos contem sua história. É isso aí. Tudo bem, esse não é dos melhores livros do Hornby, mas mesmo assim é bacana.

Esses dias um velho amigo me disse, “finalmente criou um blog de pornografia, ein”. Bom, pelo jeito ele não entrou aqui, mas para não desapontá-lo, caso entre, vou fechar essa edição comentando o Catecismo de Devoções, Intimidades e Pornografias, do Xico Sá. Um livro muito peculiar, assim como seu escritor. A obra é uma espécie de compilação de ensinamentos, dicas e reflexões sobre as pornografias do mundo moderno.

Divido em pequenos capítulos, que às vezes possuem apenas uma frase, o livro que segue o formato de um verdadeiro catecismo. É recheado de referências a grandes escritores que desbravaram essa temática, como Gregório de Matos, Nelson Rodrigues, Marquês de Sabe e Ovídio, e é dedicado a todos os rapazes chupadores de manga e meninas fãs de espigas de milho cozido.

Se você se encaixa em alguma dessas duas características, é fã desses escritores citados acima, gosta das famosas pornochanchadas brasileiras e/ou ouve Roberto, mas queria ser o Erasmo, então, meu amigo(a), leia sem medo o Catecismo de Xico Sá, parafraseando o Tremendão, será um orgasmo inenarrável.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

#5

Demorei dessa vez. E nem é porque li, vi ou ouvi 30 coisas diferentes, foi por pura preguiça mesmo. Nos últimos dias me senti mais chato do que o comum, quando isso acontece não tenho muito saco para arriscar novos títulos e dar chances honestas para qualquer coisa que eu não tenha tanto interesse.

Bom, fiz um esforço e consegui reunir quatro títulos diferentes para essa edição. Os filmes Vadias do Sexo Sangrento, do Peter Baiestorf, e Dirty Money da dupla Alexandre Vianna e Ricardo Koraicho; e os livros Febre de Bola, do Nick Hornby e Lady Sings The Blues, da Billie Holiday. (Viu?! Nada arriscado. Só escolhi coisas que provavelmente me agradariam).

Às vezes vou na sessão de biografias de bibliotecas, sebos e livrarias e fico um tempão tentando decidir sobre quem vou ler, quem vou conhecer e essas coisas assim. Tenho uma queda por elas, tenho vontade de ler todas, não importa sobre quem seja. Se um dia publicarem uma sobre você, fique sabendo que provavelmente vou querer lê-la também. Para essa edição li Lady Sings The Blues, uma autobiografia da Billie Holiday publicada originalmente em 1956, três anos da sua morte.

Desconfio de toda autobiografia. Não que não desconfie das biografias normais, afinal, é difícil ser imparcial quando se escreve um livro inteiro sobre alguém. Mas quando é o próprio autor, escrevendo sobre ele mesmo, a desconfiança naturalmente aumenta. Acho que isso é normal e acontece com todo mundo, mas se não for, bom, então sei lá.

Apesar disso, superei minha cisma e gostei do livro. Achei sincero. Normalmente acho autobiografias sinceras quando o autor escreve com muito orgulho alguma opinião ou acontecimento que se fosse na sua vida, você provavelmente ocultaria do resto do mundo com muito prazer. Mas enfim, achei bacana, dá para se conhecer mais sobre Billie Holiday de uma perspectiva muito mais interessante, que é a dela mesma.

O Nick Hornby da vez foi Febre de Bola, o primeiro dele. Livros são engraçados, eles te levam ao sucesso de uma forma diferente de, por exemplo, os discos. Não é difícil de encontrar um primeiro disco fodão, um segundo meia-boca e um terceiro fraco. Isso é comum no mercado musical. Mas livros não. Nunca se sabe em qual livro o cara vai despontar. Eu acho que o Nick Hornby só vendeu tantos exemplares do Febre de Bola, pelo menos no Brasil, porque na capa tem a frase “o escritor do sucesso Alta Fidelidade...”. Não que o livro seja ruim, pelo contrário, é bacana e eu gostei bastante dele, mas pô, precisou de ajuda do segundo ou terceiro para vender o primeiro. Faz sentido isso?

Tá, tanto faz. Isso não vem ao caso, vem?! Enfim, como já disse, o livro é legal. Porém, acho que se eu tivesse lido há um ano, antes de me mudar ao lado de um estádio de futebol e principalmente, antes de começar a sentar na mesma cadeira em vários jogos seguidos, provavelmente não tivesse gostado tanto. É que o Febre de Bola é uma espécie de autobiografia contada de acordo com os jogos de futebol que marcaram a vida do autor. Ou quase isso.

O que eu quero dizer é que se você não gosta de futebol e não faz a mínima idéia de o que é o Arsenal, provavelmente vai achar o livro chato. Se você gosta do esporte de um jeito normal, talvez você enjoe facilmente dele. Mas se você é um fanático que acha que as fases da sua vida incrivelmente se coincidem com as do seu time de coração, então vai lá, cai de cabeça na leitura que seu olha vai brilhar. E ah, sei que esse também virou filme, mas como trocaram o futebol pelo beisebol eu achei melhor não ver.

Não estou pronto, nesse momento da minha vida, para falar do filme As Vadias do Sexo Sangrento, do Peter Baiestorff. Na verdade, acho que nunca estarei. Não só sobre esse, claro, mas sobre toda a extensa obra do diretor.

Peter Baiestorff é uma lenda viva do terror tosco trash lado-b com peitinho de fora. Bicho, os filmes são uma loucura. Desde que conheci ele, quando o Andye Iore da Zombilly levou o cara até Maringá para uma festa estranha, fiquei curioso para conferir alguma obra. Mas confesso que até então não tinha encarado nada.

As Vadias do Sexo Sangrento foi o primeiro que assisti inteiro e bom, não sei o que achei. O filme é uma mistura de sangue falso com linguiças fingindo ser tripas e intestinos, consciência ambiental com propagandas pró-vegetarianismo e cenas de sexo bizarras com garotas nuas no melhor estilo Pin Up. Mas se você se empolgou com essa última parte eu aviso: Se, por acaso, você se sentir excitado com isso, por favor, procure a ajuda de um especialista.

Para encerrar, vi o ótimo documentário Dirty Money, que conta a história de um grupo de amigos que foram fundamentais na história do skate brasileiro. Ele retrata como alguns skatistas passaram pela crise econômica brasileira da década de 90 (governo Collor), e transformaram o esporte no país. O mais bacana ainda é que o filme foi e é distribuído gratuitamente pelo site dos caras (procura aí no Google que você acha) e tem entre os personagens ícones como Bob Burnquist, Alexandre Vianna, Márcio Tarobinha, Charles Chaves e muitos outros.

Dirty Money é ágil, interessante e bem feito. Tem uma trilha sonora bacana e cumpre bem o objetivo proposto. Não é desses filmes pretensiosos nem nada. É só, como o próprio subtítulo do filme diz, um documentário sobre uma geração que fez transformou o skate no Brasil. Sério, sem medo, vai fundo que vale o download.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

#4

Lembra que na semana passada falei de um livro do Nick Hornby que eu tava doido para ler?! Pois então, tá aí, “Um grande garoto” é o título da semana. Mas isso só porque li o livro e vi o filme. Se tivesse encarado só um deles provavelmente a foto aí do lado seria do “Maus”, do Art Spiegelman.

Mas vamos lá, além desses dois, nessa edição vou falar também do “O conto da ilha desconhecida”, do José Saramago, e dos livros “Ah, é?” e “99 corruíras nanicas”, do Dalton Trevisan. Como já deu para perceber, essa será uma edição praticamente só de livros.

Todo mundo conhece José Saramago, todo mundo respeita José Saramago, todo mundo idolatra José Saramago, e agora, depois que ele morreu, tudo isso aumentou. Só não virou santo porque a igreja católica não tem nada a ver com isso. Na real até tem, mais isso não vem ao caso. O que eu quero dizer é que se até hoje você não leu um Saramago, O conto da ilha desconhecida é o livro ideal para começar. Tenho três bons argumentos para justificar minha afirmação: (1) o livro é super bacana, tem capa dura e umas ilustrações que não fazem muito sentido (ou fazem e eu não entendi nada?). (2) é escrito com espaçamento duplo, fonte tamanho 14 e só tem umas 90 páginas! (3) como é bem pequeno, tem espalhado em vários blogs e sites por aí.

O conto da ilha desconhecida foi publicado originalmente em 1997 e tem todas as características marcantes do autor. Críticas a sociedade em forma de metáforas sempre criativas e originais, parágrafos longos e uma pontuação absolutamente pessoal, como se estivesse narrando oralmente toda a história. Se você resistir e gostar disso tudo, então pronto, está preparado para cair de cabeça nas belas obras de Saramago e se tornar mais um de seus vários admiradores.

Vocês (olha como eu tô metido, já falo no plural) precisam ver como Curitiba fica deserta quando rola um feriado prolongado. Toda a galera desce para a praia. Não sobra nada, ninguém. Foram nessas condições que entrei na onda do Trevisan e li 99 corruíras nanicas e Ah, é?. Eu já não sei mais quais livros dele são coletâneas e quais são de material inédito. Na real, eu nunca soube. Todo que livro do Trevisan que leio tem pelo menos um conto que já li em algum outro lugar. Não que eu tenha lido muitos, só uns quatro ou cinco dos mais 40 publicados até hoje, mas essa sensação tá sempre presente.

Esses dois que li dessa vez são bem parecidos. Contos bem curtos e temas parecidos. Eles falam basicamente sobre amor, sexo, crianças, pássaros, velhos e morte. Às vezes, em um ou outro conto, tenho a impressão que ele deixa escapar um desabafo, uma coisa mais sincera e real, mas na maioria das vezes esses aí são os assuntos abordados mesmo. Não que isso seja ruim. Desde a época do colégio, quando lia os livros selecionados para o vestibular, já cultivava uma admiração pelo trabalho do Dalton. Mas só depois que mudei para Curitiba é que entendi melhor o jeito particular e, porque não, diabólico, que ele tem de enxergar e idealizar a capital paranaense.

Desde aquela edição em que tive vontade de ler algo em quadrinhos venho procurando um bom livro no estilo, até comprei um pela internet, mas ele não chegou. Aí, nessa ansiedade toda, um amigo me emprestou um exemplar com a história completa de Maus, do Art Spiegelman. Não sei muito bem o que dizer, pois, apesar de ser relativamente simples, acho que ainda não digeri completamente. Mas já digeri o suficiente para colocar na minha lista imaginária de “puta livro fodido que vou indicar para meus amigos”, por mais que seja chato esse lance de ficar indicando livros por aí.

Mas saca só o potencial: Maus conta, em quadrinhos (como eu já disse), a história de como Vladek Spiegelman, judeu polonês e pai do autor, sobreviveu ao Holocausto e quais foram as consequências disso no seu relacionamento com a família. E aí, para dar uma quebrada nessa onda biográfica dramática, Art, ironicamente, transforma todos os personagens em animais, de acordo com suas nacionalidades. Se por acaso isso tudo que eu disse não pareceu interessante o suficiente, ignore e fique só com a parte em que digo que é ótimo.

Como já disse, Um grande garoto foi o título dessa edição. O livro é muito bacana. Tem todas aquelas características legais do Nick Hornby, como suas várias referências ao mundo pop e personagens que, de alguma forma, refletem um pouco da sua própria personalidade. Tudo isso em uma linguagem simples, rápida e, mais importante do que tudo isso, bem humorada. Sacou? O humor. Isso é legal. Hornby é um cara que consegue te fazer rir de verdade. Não é daquele tipo que você lê algo e pensa “é, divertido”. Um grande garoto te faz rir de um jeito que você consegue ouvir sua própria risada. E isso sim é bacana.

Nem sabia que existia o filme, aí me falaram que tinha um e eu fui lá e assisti. Sabe, não é ruim. É quase tão divertido quanto o livro e tudo mais, mas, como em quase todas as adaptações do mundo, o livro é melhor. Às vezes eu acho que eles fazem isso de propósito. Outra coisa que me incomoda é a mania besta de querer mudar a história. Tem alguma explicação lógica para isso? Sabe, por que mudar os personagens, o contexto e até os detalhes? Eles trocaram Kurt Cobain por um rapper que eu não lembro o nome, e, pior de tudo, substituíram a frase “eu odeio a Joni Mitchell, caralho” por uma citação qualquer do Jon Bon Jovi! Não faz muito sentido isso, faz?

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

#3

Na semana passada eu disse que nessa edição ia escrever sobre música. E eu até vou, os livros que li foram sobre música, o filme que eu vi foi sobre música, tudo nessa edição é sobre música!, mas olha, vou falar uma coisa, isso foi chato. Passei os últimos dias me segurando para não começar a ler um livro do Nick Hornby que descolei na biblioteca. Quando, por um descuido, pegava ele na mão, minha consciência falava “não, cara (sim, ela me chama de cara), você ainda não terminou aquele outro sobre o Chico”. Maldito Chico! E olha que ele nem foi o meu maior problema.

Mas, tudo bem. Olha só, nessa edição, eu vou falar dos livros “Chico Buarque – História das canções”, “10 anos de Goiânia Noise – Em terra de cowboy quem toca guitarra é doido” e “Rock, nos passos da moda”. O filme da vez é o “Uma noite em 67” e o disco, “Escaldante Banda”, do Garotas Suecas.

Depois de fazer a promessa besta da semana passada eu corri para a biblioteca para procurar alguma coisa sobre música. Me surpreendi quando achei na prateleira o livro 10 anos de Goiânia Noise, do Pablo Kossa. O Goiânia Noise é, provavelmente, o maior festival de música independente do país e todo ano eu planejo uma viagem frustrada para curtir alguns shows por lá. Quando o livro foi lançado, em 2005, (em homenagem aos 10 anos do festival, comemorados no ano anterior) eu fiquei afim de ler, mas assim como tantos outros títulos, fui deixando para depois. Enfim, o fato é que dessa vez eu encarei.

Tudo bem, o Pablo Kossa não é dos melhores escritores que eu já li, e pô, desculpa, mas ao contrário do que o Alexandre Petillo escreve no seu prefácio emocionado, eu duvido que o livro chegue a sua 145ª Edição. Na real, até seria legal uma segunda, com uma nova revisão. Nessa têm alguns errinhos e tudo mais. Mas não é sobre isso que eu quero falar. Eu quero falar de como foi legal ler sobre o Goiânia Noise. Sabe, eu imaginava que o festival era muito maior do que aquilo que encontrei no livro. Conheço os perrengues e todas as dificuldades que um festival independente nacional enfrenta, mas achei que eles já tinham passado por essa fase de tantos imprevistos. Na real, acabei com a impressão de que nunca rolou uma edição 100%. E, pô, se mesmo assim ele já faz todo esse barulho, imagina quando rolar a primeira!

Foi depois dessa leitura simples e rápida que eu comecei a travar minha batalha contra o pós-doutor Tupã Gomes Corrêa (ou Victor Aquino, parece que depois de um tempo ele mudou seu nome). Seu livro, Rock, nos Passos da Moda tem um primeiro capítulo cheio de parágrafos esquisitos e desinteressantes que me custaram uns dois ou três dias. Até cogitei abandonar, mas os capítulos seguintes foram mais legais e abordaram exatamente o que eu esperava deles: uma discussão sobre o rock, a moda e a cultura de massa.

Corrêa, entre outras coisas, usa como exemplo os movimentos punk e hippie para discutir como gêneros musicais, surgidos como uma forma de protesto, perdem seu sentido quando são integrados na produção em série da indústria cultural. Claro, o livro foi publicado em 1989, portanto, tem alguns equívocos, mas nada que altere o resultado final. Eu fiquei imaginado o que Tupã diria sobre o Restart e sua loja virtual que vende até as calças que a banda usa.

O Chico - A história das canções, do Wagner Homem, eu ganhei de aniversário, em fevereiro. Na época li algumas páginas, mas achei meio cansativo. O esquema é assim: tem a letra da música e depois um comentário, contexto histórico ou até uma curiosidade sobre a canção. Ficou mais divertido de ler quando consegui a discografia do Chico Buarque. Mas ainda assim deu pra enjoar. O livro foi feito para um público específico, os chicomaníacos, e a impressão que eu tive é que, o Wagner Homem, sendo um deles, escreveu para causar inveja nos outros. É sério, ele fica tentando se colocar na história, contando coisas desnecessárias como seus encontros, e-mails e sei lá o que mais com o músico.

Nesse meio tempo um site gringo divulgou o disco Escaldante Banda, da banda paulista Garotas Suecas. Depois de, no ano passado (ou 2008, eu não tenho certeza), lançar um EP muito elogiado, eles se transformaram em um dos nomes mais comentados no país e o disco de estréia se transformou em um dos mais aguardados do ano, segundo a imprensa especializada na música independente nacional (se é que existe uma).

Assim que saiu eu ouvi, e como esperava, não achei nada de novo ou inovador. Mas isso não faz do Escaldante Banda um álbum ruim, muito pelo contrário. O disco é muito bacana e entraria fácil na minha lista de melhores discos independentes brasileiros do ano, caso eu tivesse uma. O som da vez da banda é baseado no funk soul brasileiro da década de 70, como Tim Maia, Toni Tornado, Hyldon, Gerson King Combo e, porque não, Roberto Carlos. Praticamente uma década de evolução em relação ao primeiro registro fonográfico da banda (aquele que tinha Corina e Efervescente) que tinha nitidamente influências 60’s como Beatles e Jovem Guarda.

Antes de fechar o conteúdo dessa edição eu resolvi ir no cinema. Descobri que aqui perto de casa tava passando Uma noite em 67, um documentário do Renato Terra e do Ricardo Calil que conta a história do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. Sempre pirei no ano de 1967. A produção musical foi intensa e gerou ótimos discos em vários países. No Brasil, com ditadura militar e um movimento estudantil exigente, não foi diferente.

O filme retrata um pouco disso, os jovens, as vaias, as ideologias, os artistas e a nova cara da música brasileira da época. Mas além disso, o longa mostra também como os diretores da Record só viam o festival como um programa televisivo, e revela que foi o público fervoroso que transformou o evento em algo tão grande e importante na história da MPB. E falando em reação do público, preciso confessar que foi emocionante ver Edu Lobo sendo ovacionado enquanto tocava pela primeira vez Ponteio, a música vencedora daquele ano. Quase tão legal quanto ver a revolta de Sérgio Ribeiro, que de tão vaiado, desistiu de se apresentar, quebrou o violão e arremessou na galera.

Cara, se você gosta dessa galera dos festivais, de MPB, ou apenas se interessa pela história da música brasileira, dá um jeito de ver o filme. É realmente legal, tem entrevistas com Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso, Roberto Carlos e muito mais. E, pô, tente ver no cinema, é mais divertido. Na minha sala tinha um senhor solitário que sempre ria das vagarosas frases do Gilberto Gil.

domingo, 22 de agosto de 2010

#2

As coisas não funcionaram como eu previa desde a publicação da primeira edição dessa coluna. Queria manter o ritmo leitura, aumentar o número de filmes e ouvir a maior quantidade de discos possíveis, mas não foi bem isso o que aconteceu. Li pouco, não ouvi nenhum disco novo e vi apenas um filme (fora aqueles que passam de madrugada na Globo). Esse descaso tem um motivo: Recentemente eu comprei um videogame.

Tive um professor na época do colégio que sempre dizia “é impressionante como tudo fica mais legal quando a outra opção é estudar”. Se ele tivesse um videogame, provavelmente não teria virado professor. Não estou comparando os títulos dessa coluna com estudos escolares, só estou justificando como gastei boa parte do meu tempo nos últimos dias.

Mas, vamos lá, nessa segunda edição comentarei os livros “Cineclub em Quadrinhos”, “Para Alto e Avante” e o indiscutível clássico “On The Road”. Também vou falar do filme nacional “É Proibido Fumar” e claro, de videogame. Não será nessa ordem específica, comentarei na ordem em que elas aconteceram, afinal, uma coisa leva a outra.

Depois de ler o livro do Hornby eu fiquei afim de ler sobre quadrinhos e cinema. Como não me sobrou muito dinheiro depois da aquisição do videogame, fui para a biblioteca. E cara, como gosto de bibliotecas. Me sinto em uma livraria podendo escolher qualquer título sem precisar olhar o preço. Trago todos para casa, deixo em cima da mesa, leio tudo com calma e, no final, nem preciso me preocupar em achar um lugar definitivo na estante, que por sinal, eu não tenho.

Tá, voltando ao assunto. Lá na biblioteca o primeiro livro que achei foi o Cineclub em Quadrinhos, do Nielson Ribeiro Modro. Ele nada mais é do que uma história em quadrinhos que explica como funciona o Cineclub, um projeto do Rio Grande do Sul que ensina e incentiva o uso de filmes em aulas de ensino fundamental. O livro é bem simples e até meio óbvio, mas não deixa de ser interessante. Se você for professor então, ó, batata! (nunca entendi essa expressão). Ao longo das ilustrações, Modro explica qual é o melhor jeito de exibir o filme para a criançada, dá dicas de algumas obras e ajuda a conciliar ela em várias matérias escolares. Se meus professores tivessem lido o Cineclub, provavelmente minhas aulas fossem mais interessantes e eu não teria dormido tanto (não que eu me orgulhe ou os culpe disso).

Em seguida li Para o Alto e Avante, de Iuri Andreas, que é, como o subtítulo já diz, uma “análise do universo criativo dos super-heróis”. Andreas, pelo que entendi, produziu esse estudo em paralelo ao seu mestrado em Teologia e tinha como pretensão aliviar um pouco a barra dos leitores de quadrinhos (tá, aposto que é um pouco mais complexo que isso, mas defendo minha teoria sincera).

Por vários motivos, não me sinto muito confortável comentando um texto acadêmico, mas o trabalho de Iuri é diferente, ou pelo menos ele lutou muito para ser. Encarei o livro por esperar uma leitura divertida, instrutiva e descontraída. Não encontrei isso, ou pelo menos todas essas características juntas. A produção de Andreas é confusa e muitas vezes ingênua. Em certos momentos não sabia se o que eu estava lendo era sobre o universo fictício dos super-heróis ou se era sobre a nossa sofrida realidade cultural. Além disso, o texto é muito repetitivo. Tem um capítulo de duas páginas e meia que deve ter, no mínimo, 37 vezes a palavra “mito”. De qualquer forma, Para o Alto e Avante tem seus bons momentos, como a contextualização dos quadrinhos e super-heróis nacionais. Ali dá para sentir sobre o que o autor realmente gosta de escrever.

Foi nessa sequência acadêmica que o videogame cresceu na minha rotina diária. Ele era muito mais divertido, emocionante e interativo, principalmente agora que dá pra jogar online com alguém absolutamente desconhecido de qualquer canto do mundo. Não consigo descrever a sensação de ganhar de um argentino por 3x2 de virada.

Como deu para perceber, tenho uma queda por jogos de futebol. Passei alguns dias decidindo o qual era o melhor jogo, FIFA ou o PES. E, não sei se te interessa, mas, entre os dois, atualmente, eu fico com o FIFA. Sempre joguei PES, mas depois do FIFA ele já não tem tanta graça. Parece mais fácil, mais simples, não sei explicar. Se você for daqueles viciados que compram revistas e sabem todos os dados técnicos, por favor, deixe um comentário aí embaixo. Já foi complicado o suficiente para mim, escolher entre um Xbox e um PS3.

Enfim, para fugir das tentações do videogame eu precisava de um livro interessante, com uma linguagem espontânea e que me prendesse na leitura. Foi assim que eu comecei a ler On the Road, do Jack Kerouac. Eu não sei por que as pessoas, assim como eu, vão adiando a leitura dele. On the Road é, como todo mundo sabe, uma obra fantástica, cheia de referências legais e fundamental na compreensão da história da cultura pop e seus mitos. Por exemplo, dizem por aí que foi depois de ler ele que o Bob Dylan pegou suas coisas e saiu de casa. E só pode ser verdade. Não que eu seja um Dylan e coisa e tal, mas, porra, eu fiquei uma semana me segurando aqui em casa para não pegar uma mochila e sair andando e pedindo carona por aí. Se as coisas fossem tão fáceis como no livro (peguei meus 10 dólares, comprei um maço de cigarro, uma garrafa uísque, um sanduíche, enchi o tanque do carro e continuei minha viagem com apenas um dólar no bolso) eu acho que encarava. Na real, até deve ser fácil, eu que sou bundão demais para isso.

Para fechar a coluna eu precisava ver pelo menos um filme, então, aleatoriamente, escolhi o nacional É Proibido Fumar, que foi escrito e dirigido por Anna Muylaert e recebeu vários prêmios esse ano. O longa tem uma fotografia muito bacana, é divertido e me agradou muito. As várias cenas engraçadas - como a discussão entre Paulo Miklos e Glória Pires sobre quem seria melhor, Jorge Ben ou Chico Buarque – deixam leve o conflito central que envolve o cigarro e um assassinato. A música, por sinal, está presente em vários momentos. Ambos os protagonistas são músicos, (eu também tinha escrito um comentário sobre o Titãs e o Fábio Jr., mas achei melhor apagar) rolam várias participações especiais como Pitty e André Abujamra e tem até uma cena da Glória Pires se depilando com uma camiseta do Chico Buarque que entraria fácil para as T-Girls do Trabalho Sujo (olha a dica aí, malandro). De uma forma geral, É Proibido Fumar até me lembrou o primeiro longa da diretora, o clássico obscuro nacional Durval Discos. Resumindo, eu gostei tanto que até prometi para mim mesmo que na próxima edição vou dar uma atenção maior para a música.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

#1

Para essa primeira edição da coluna eu li vários livros, vi vários filmes e ouvi vários discos. Mas se pensar bem, foi tudo uma farsa. Sabe, como não tinha uma data específica para publicar, fui juntando tudo o que o que consumi nas últimas semanas. Mas e nas próximas? Ficaria chato publicar uma primeira coluna com 50 títulos e, em uma segunda edição, publicar apenas cinco. Sabe o que eu fiz? Escolhi só uns cinco para essa também (ou você acha que eu aguento 50 por edição?).

Então hoje vou falar sobre os filmes nacionais Besouro e A Festa da Menina Morta, o disco de estréia da banda Do Amor, o livro O Doce Veneno do Escorpião da Bruna Surfistinha (calma, eu posso explicar) e, claro, o Frenesi Polissilábico do Nick Hornby.

Besouro foi muito comentado no Brasil, provavelmente pela idéia um tanto quanto inovadora do filme: Uma espécie de herói que domina uma arte marcial tipicamente brasileira, a capoeira. Ao mesmo tempo em que informa o público com dados históricos sobre a luta e a sua importância na cultura do país, Besouro também cria uma atmosfera típica de filmes de ação hollywoodianos no melhor estilo sessão da tarde. Além dos problemas nítidos de edição e montagem, o lance é que os atores são ruins. A impressão que dá é que pegaram ótimos lutadores de capoeira, fizeram um curso básico de atuação e boa, mandaram rodar o longa. Espero que o protagonista, Aílton Carmo, não se torne um Jackie Chan ou, sei lá, o Bruce Lee nacional. Tá, eu peguei pesado. Enfim, o filme tem seu valor inovador, mas acho que é só isso.

Esses dias, durante uma aula, um professor comentou a importância de Dira Paes no cinema nacional. Fiquei pensando em quantos filmes já vi com ela e quantos faltariam para eu completar sua filmografia. Faltam vários. Mas um dos que eu ainda não tinha visto me chamou a atenção pelo nome: A Festa da Menina Morta. Já tinha ouvido falar, só não lembrava o quê, então fui lá e assisti.

A idéia central do longa é bem interessante. Um santo vivo, os milagres, a festa em comemoração a ele e como isso afeta sua vila, cidade ou seja lá o que for aquilo. Mas o filme é daqueles pesados, cheios de cenas cansativas e desnecessárias. E olha que eu nem tô falando do incesto homossexual divino. Eu tô falando é da galinha degolada, dos 15 minutos de porco gritando, dos vários segundos de enquadramentos sem sentido e, claro, do afogamento no rio sujo do tal porco gritão. Confesso que pausei várias vezes o filme. Uma dessas pausas durou cerca de uma semana! Só dei uma nova chance quando descobri que A Festa da Menina Morta era a estréia como diretor e roteirista do Matheus Nachtergaele, um dos meus atores nacionais preferidos.

A nova chance durou mais uns 20 minutos. Eu não consegui terminar. Eu não aguento mais A Festa da Menina Morta. Então ó, se você já assistiu e acha que o filme tem um puta final genial, me avise. Eu juro que tento mais uma vez.

Conheço a banda carioca Do Amor há algum tempo, algo como um ou dois anos. Acho que nunca saiu um material fechado, como um disco e tal, só algumas músicas soltas. E confesso que não gostava dessas músicas. Recentemente o grande assunto do twitter (ou pelo menos das pessoas que eu sigo) foi o “vazamento” do disco de estréia homônimo da banda. Relutei um pouco, mas fui convencido a ouvir depois dos vários elogios que li.
O disco é bacana. Tem um swing próprio, criado depois de uma mistura louca de vários estilos musicais como rock, indie, axé e até carimbó. Tem muita gente dizendo que esse é um daqueles discos unânimes nas famosas listas nacionais de “melhores do ano”. Eu não duvido e, se a produção musical do país continuar nesse ritmo até o final do ano, Do Amor também entra na minha lista.

Li O Doce Veneno do Escorpião, a autobiografia da ex-garota de programa Bruna Surfistinha, por dois motivos: (a) você deve saber que o livro vai virar filme, mas essa semana eu assisti um trailer, com trilha do Cansei de Ser Sexy, que rolava uma cena da Deborah Secco dançando seminua e (b) esse é um daqueles livros que você lê em 40 minutos. É importante ressaltar que um motivo é inútil sem o outro. Por exemplo, se rolasse uma cena de sexo explícito da Deborah Secco, com trilha sonora, sei lá, do Velvet Underground, mas se o livro tivesse 500 páginas, eu dispensava a leitura tranquilamente. Provavelmente o filme não.

Durante as 168 páginas, o livro muda de propósito várias vezes. Vai de autobiografia (com a vida da Raquel) a auto-ajuda (com dicas sexuais da Bruna), passando até por páginas e mais páginas de curiosidades e bizarrices sexuais. O estilo meio ingênuo é muitas vezes duvidoso. Não consegui entender o que a autora queria que eu, ou qualquer outro leitor, pensasse sobre ela.

Frenesi Polissilábico, do Nick Hornby, é uma coletânea de críticas literárias que o autor, originalmente, publicou na revista Beliver. Se você leu o editorial desse blog pode imaginar o quanto gostei. Esse é um daqueles livros que vou indicar para todo mundo, dar de presente em aniversários, natal e essas coisas todas (se você é meu amigo, se prepare e não reclame). Ele é interessante, divertido e envolvente. O único problema em lê-lo é que sua lista de “livros que pretendo ler” vai aumentar consideravelmente. Se não me engano, o único livro resenhado por Hornby que li, foi o “Crônicas” do Bob Dylan. Culpa dele, que não conhece a Bruna Surfistinha.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

aquele editorial

Já faz tempo que quero criar o S2. A idéia é escrever sobre discos, livros, filmes, videogame, pornografia, ou seja, tudo que envolve cultura pop. O nome é uma piada sem graça com a Família Restart e todas as pérolas virtuais que eles conseguiram criar em tão pouco tempo de existência. E também, fazer uma referência a frase “eu gosto mesmo é de pornografia” que sempre uso nas descrições de perfis virtuais e que, pensando agora, nem faz muito sentido. Tá, tudo bem, é chato, mas eu avisei que era uma piada sem graça. A grande verdade é que eu não tenho muita criatividade, aí, pensei nesse nome e fiquei com preguiça de escolher outro.

Enfim, montei o blog agora porque acabei de ler o Frenesi Polissilábico do Nick Hornby. Na maior cara de pau, decidi meio que copiar o cara. É claro que não vou conseguir, afinal ele é bem mais legal do que eu, lê muitos mais livros, recebe por isso e escreve muito melhor. Tá, ele deve ter milhares de outras vantagens, mas eu só consegui me lembrar dessas nesse momento. Mas o plano é esse, de tempos em tempos vou postar uma coluna no melhor (ou pior) estilo crítica cultural opinativa e tendenciosa.

Eu bem que podia fazer isso no Espora de Galo, meu outro blog, mas aí, além de perder a identidade duramente conquistada de 3 ou 4 linhas por post, ia também perder os poucos leitores preguiçosos. Como você já percebeu, as coisas aqui serão um pouco mais longas e também, um pouco mais chatas.

Bom, é isso. Logo mais, amanhã talvez, posto a primeira edição dessa coluna. Espero que goste.