quarta-feira, 15 de setembro de 2010

#4

Lembra que na semana passada falei de um livro do Nick Hornby que eu tava doido para ler?! Pois então, tá aí, “Um grande garoto” é o título da semana. Mas isso só porque li o livro e vi o filme. Se tivesse encarado só um deles provavelmente a foto aí do lado seria do “Maus”, do Art Spiegelman.

Mas vamos lá, além desses dois, nessa edição vou falar também do “O conto da ilha desconhecida”, do José Saramago, e dos livros “Ah, é?” e “99 corruíras nanicas”, do Dalton Trevisan. Como já deu para perceber, essa será uma edição praticamente só de livros.

Todo mundo conhece José Saramago, todo mundo respeita José Saramago, todo mundo idolatra José Saramago, e agora, depois que ele morreu, tudo isso aumentou. Só não virou santo porque a igreja católica não tem nada a ver com isso. Na real até tem, mais isso não vem ao caso. O que eu quero dizer é que se até hoje você não leu um Saramago, O conto da ilha desconhecida é o livro ideal para começar. Tenho três bons argumentos para justificar minha afirmação: (1) o livro é super bacana, tem capa dura e umas ilustrações que não fazem muito sentido (ou fazem e eu não entendi nada?). (2) é escrito com espaçamento duplo, fonte tamanho 14 e só tem umas 90 páginas! (3) como é bem pequeno, tem espalhado em vários blogs e sites por aí.

O conto da ilha desconhecida foi publicado originalmente em 1997 e tem todas as características marcantes do autor. Críticas a sociedade em forma de metáforas sempre criativas e originais, parágrafos longos e uma pontuação absolutamente pessoal, como se estivesse narrando oralmente toda a história. Se você resistir e gostar disso tudo, então pronto, está preparado para cair de cabeça nas belas obras de Saramago e se tornar mais um de seus vários admiradores.

Vocês (olha como eu tô metido, já falo no plural) precisam ver como Curitiba fica deserta quando rola um feriado prolongado. Toda a galera desce para a praia. Não sobra nada, ninguém. Foram nessas condições que entrei na onda do Trevisan e li 99 corruíras nanicas e Ah, é?. Eu já não sei mais quais livros dele são coletâneas e quais são de material inédito. Na real, eu nunca soube. Todo que livro do Trevisan que leio tem pelo menos um conto que já li em algum outro lugar. Não que eu tenha lido muitos, só uns quatro ou cinco dos mais 40 publicados até hoje, mas essa sensação tá sempre presente.

Esses dois que li dessa vez são bem parecidos. Contos bem curtos e temas parecidos. Eles falam basicamente sobre amor, sexo, crianças, pássaros, velhos e morte. Às vezes, em um ou outro conto, tenho a impressão que ele deixa escapar um desabafo, uma coisa mais sincera e real, mas na maioria das vezes esses aí são os assuntos abordados mesmo. Não que isso seja ruim. Desde a época do colégio, quando lia os livros selecionados para o vestibular, já cultivava uma admiração pelo trabalho do Dalton. Mas só depois que mudei para Curitiba é que entendi melhor o jeito particular e, porque não, diabólico, que ele tem de enxergar e idealizar a capital paranaense.

Desde aquela edição em que tive vontade de ler algo em quadrinhos venho procurando um bom livro no estilo, até comprei um pela internet, mas ele não chegou. Aí, nessa ansiedade toda, um amigo me emprestou um exemplar com a história completa de Maus, do Art Spiegelman. Não sei muito bem o que dizer, pois, apesar de ser relativamente simples, acho que ainda não digeri completamente. Mas já digeri o suficiente para colocar na minha lista imaginária de “puta livro fodido que vou indicar para meus amigos”, por mais que seja chato esse lance de ficar indicando livros por aí.

Mas saca só o potencial: Maus conta, em quadrinhos (como eu já disse), a história de como Vladek Spiegelman, judeu polonês e pai do autor, sobreviveu ao Holocausto e quais foram as consequências disso no seu relacionamento com a família. E aí, para dar uma quebrada nessa onda biográfica dramática, Art, ironicamente, transforma todos os personagens em animais, de acordo com suas nacionalidades. Se por acaso isso tudo que eu disse não pareceu interessante o suficiente, ignore e fique só com a parte em que digo que é ótimo.

Como já disse, Um grande garoto foi o título dessa edição. O livro é muito bacana. Tem todas aquelas características legais do Nick Hornby, como suas várias referências ao mundo pop e personagens que, de alguma forma, refletem um pouco da sua própria personalidade. Tudo isso em uma linguagem simples, rápida e, mais importante do que tudo isso, bem humorada. Sacou? O humor. Isso é legal. Hornby é um cara que consegue te fazer rir de verdade. Não é daquele tipo que você lê algo e pensa “é, divertido”. Um grande garoto te faz rir de um jeito que você consegue ouvir sua própria risada. E isso sim é bacana.

Nem sabia que existia o filme, aí me falaram que tinha um e eu fui lá e assisti. Sabe, não é ruim. É quase tão divertido quanto o livro e tudo mais, mas, como em quase todas as adaptações do mundo, o livro é melhor. Às vezes eu acho que eles fazem isso de propósito. Outra coisa que me incomoda é a mania besta de querer mudar a história. Tem alguma explicação lógica para isso? Sabe, por que mudar os personagens, o contexto e até os detalhes? Eles trocaram Kurt Cobain por um rapper que eu não lembro o nome, e, pior de tudo, substituíram a frase “eu odeio a Joni Mitchell, caralho” por uma citação qualquer do Jon Bon Jovi! Não faz muito sentido isso, faz?

Um comentário:

  1. Mano, eu também tô lendo Maus!!! Um amigo emprestou, same old story, ainda não terminei, mas tô pra acabar. É realmente uma graphic novel das melhores que eu já li, não sou profundo conhecedor, mas procuro ler as mais badaladinhas da Vertigo, Companhia das Letras, essas mais adultas. Acredito que o diferencial de Maus, o que o fez vencer o Pulitzer, além da grande sacada de retratar as diferentes nacionalidades com diferentes animais, foram três coisas: o traço simples em p&b, que é muito bom (não dá pra imaginar a história colorida!), o compromisso do cara em ser sincero o tempo todo, uma sinceridade extremamente sensível, e por último (o que talvez seja uma consequência do motivo dois) aqueles momentos metalinguísticos, como quando ele relata que o pai leu o quadrinho que ele fez sobre a mãe e ficou triste, ou quando ele conta que atingiu um hiato criativo e não conseguia continuar a história do pai, não sabia como. Tudo isso é muito genial, cara, e chega a ser inovador ver isso nos quadrinhos, na literatura é recurso já bastante utilizado, nos quadrinhos é arrebatador.

    Espero não ter escrito demais, tô mesmo empolgado com a leitura.

    Um grande abraço! Falou!

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