quarta-feira, 16 de novembro de 2011

#9

Pensei em voltar com o S2 no ano que vem. Sabe como é, né?! Ano novo, vida nova. Um bom momento de começar novos projetos e retomar alguns antigos. Bobagem. Fiquei com medo de desistir da ideia até chegar o próximo ano. Em um mês eu consigo mudar de ideia no mínimo umas três vezes. Imagina nos dois que eu tenho até 2012 chegar! Aí pensei, então até janeiro eu vou tentar colocar o blog em dia com as leituras que fiz durante 2011. Aí ano que vem volta ser meio que em tempo real isso aqui. O que acham? (Não vai dar certo).

Mas então é isso aí, vamos lá. Vou simplesmente ignorar o fato de que não escrevo nada aqui há quase um ano e começar. Se você sentiu minha falta, manda um S2 em algum lugar aí. Vou ficar feliz, sério.

Não sei bem sobre o que vou escrever. Só sei que não vai rolar nada de filmes mais uma vez. É melhor esconder o fato de que os únicos filmes que vi nos últimos meses foram coisas como Eclipse, Dragon Ball e aquela versão nova e bizarra do Karatê Kid. Sabe como é, preciso manter minha imagem. Mentira, vi mais coisa também, mas simplesmente não tô afim de escrever sobre isso.

Bom, dando sequência na linha de raciocínio da última edição (dei uma lida ali agora e, olha só, que calorosa que foi), li o livro Pequenos Pássaros, da Anaïs Nin. Li aqueles contos eróticos na praia, nos horários de almoço do sex shop, no meio de outras leituras como a edição Peludinhas da Revista Erotika (tinha uma chamada na capa que dizia “conheça a Amazônia”) e uma edição Kama Sutra especial com 365 posições diferentes (uma para cada dia do ano! Quase coloquei como meta da virada do ano tentar fazer todas ao longo de 2011, mas resolvi parar com os planos que não consigo cumprir).

Confesso que tava com medo da autora. Naquele livro com as colunas do Bukowski que comentei na edição passada tem uma parte que alguém pergunta se ele quer conhecer a Anaïs Nin, ele responde alguma coisa como “ah, não, ela é demais pra mim”. Achei que ela ia me destruir. Mas aí li o primeiro conto do livro e vi que ela não era tão má assim.

Engano meu. Só o primeiro era leve. A garota é pesada. Os outros contos me acertaram em cheio. São fortes e ousados. Ainda mais quando você pensa que ela escreveu tudo aquilo na década de 1940. Aquele erotismo todo deve ter dado trabalho, ein. É verdade que às vezes ela é um pouco repetitiva. Em Pequenos Pássaros os contos geralmente seguem, de uma forma geral, o mesmo roteiro base, mas se você tá procurando algum tipo de literatura erótica e não tá muito afim de parecer um tarado(a) convencional, pegue um livro da garota aí.

Depois disso li Os Beats, sabe? Aquele em quadrinhos lançado no ano passado sobre e geração beat. Então, ganhei de natal e devorei. Sou suspeito pra dizer, esse é um daqueles que acho que li na época certa. Li em um momento que meu interesse por quadrinhos e pelos beats estavam em alta. Mesmo assim, não gostei dele por completo. Não entendam mal, achei muito bacana, curti vários dos desenhistas do livro (não me lembro dos nomes agora e, pra piorar, emprestrei o livro pra alguém que não me lembro quem), mas outros não me agradaram tanto. Também achei cada parte curta e concisa o suficiente para não me deixar curioso ou satisfeito. Claro, isso não acontece em todos os capítulos, alguns foram até mais longe do que esperava e me fizeram repensar a classificação de “anti-herói” que dava para alguns dos autores citados (é que pode ser que alguns deles fossem simplesmente uns cuzões). Enfim, se você tá na pira, leia aí. Mal não vai fazer.

Calma, eu preciso lembrar o que li depois. Acho que ainda em janeiro eu li dois livros do Daniel Galera. O primeiro foi o segundo e o segundo foi o primeiro. Sacou? Meu guru literário (sim, eu tenho um) me recomendou O Até o dia em que o cão morreu, segundo livro lançado pelo Galera e primeiro romance do cara, e disse “olha, acho que é o que você tá procurando”.

Acho que era. Eu não sei bem o que aconteceu, mas eu realmente pirei no livro. Talvez, mais uma vez, tenha sido o lance do livro certo na hora certa. Gostei tanto que minha primeira reação foi sair indicando por aí. Na primeira tentativa já fiquei triste. Um amigo leu e não gostou.

Bom, tudo bem. Eu realmente gostei do livro. O Galera é direto, curto, forte e parece captar bem os dilemas da nova (nossa?) geração. A apatia, crise e medo do personagem são características que eu encontro em várias das pessoas ao meu redor e claro, em mim também (talvez eu deva esconder isso das pessoas). Vai ver esse foi o problema do meu amigo com o livro, ele é centrado, bem sucedido e responsável demais.

Depois de ler e pirar nesse aí eu resolvi encarar o primeiro dele, um de contos chamado Dentes Guardados que da pra ler de graça na internet. Esse eu já achei mais fraco. Não completamente, tem alguns contos que gostei pra valer, tipo aquele ‘manual para atropelar cachorros’ que até virou curta metragem - e que é bom também - e o ‘triângulo’. Outros são horríveis, tipo aquele ‘os mortos de marquês de sade’. Eu não sei se isso é motivo para achar o Galera bom, é um lance mais pessoal, mas eu me identifico com algumas coisas que ele escreve (não, eu nunca atropelei um cachorro).

Se você realmente se interessar e quiser ler algo do Daniel Galera eu até recomendo começar com o Dentes Guardados (afinal é o melhor custo-benefício), mas não se deixe abater pelo contos ruins. Uma vez vi o Sérgio Sant’Anna dizer que seu primeiro livro era detestável e que alguns contos ele iria renegar até a morte. Talvez o Galera faça o mesmo daqui uns anos. Talvez não.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

#8

Se você não gosta de praia, não vá para uma despreparado. Aprendi isso na prática. Estou no litoral faz umas duas semanas, e apesar de trabalhar num sex shop nessas áreas paradisíacas (pode rir, vai), o que teoricamente pode ser muito legal, eu já li uns seis, sete ou sei lá quantos livros nos meus momentos de tédio.

Ainda não sei o que me fez ter vontade de escrever mais uma edição ainda esse ano. Talvez seja o clima quente contagiante (isso é mentira), talvez seja a quantidade de livros que li na última semana (mais do que nos últimos dois meses juntos!), talvez seja para falar o quanto os livros mudaram minha vida esse ano, mas, provavelmente, o motivo maior seja o Bukowski. Depois de ler Notas de um velho safado, percebi que isso aqui perdeu o brilho, isso, se algum dia ele teve um.

Comecei esse blog empolgado depois de ler o Frenesi Polissilábico do Hornby, que por sinal foi um dos livros mais legais que li esse ano, suas críticas literárias realmente me animaram e me fizeram ler e escrever muito mais. Mas depois de um tempo virei um preguiçoso. Tá, nem tudo foi preguiça, mas ela, provavelmente a maior culpada disso, contribuiu diretamente para o comodismo nessa coluna.

É verdade também que nesse meio tempo algumas coisas que li, vi ou ouvi também mudaram meus planos durante o ano, por exemplo, o On the Road, do Kerouac. Se não fosse ele eu não teria viajado tanto em 2010. Ao longo do ano passei algumas cidades, peguei algumas caronas e, pô, sei lá, não foi nada tão grande quanto eu queria, e muito menos tão legal quanto a loucura do livro, mas foi bacana e ainda tá sendo.

Mas vamos lá, nessa última edição do ano, como despedida de 2010, vou falar sobre alguns dos livros que li aqui na praia até agora (pretendo ler mais alguns antes de sair daqui). Além do Notas de um velho safado, do Bukowski, li também Do amor e outros demônios, do Gabriel García Márquez, 1933 foi um ano ruim, do John Fante, Caprichos & Relaxos, do Paulo Leminski, Demian, do Hermann Hesse e Velho e o Mar, do Ernest Hemingway. Na real, não tem muito o que falar sobre eles, só tem fodão, clássico, ganhador de prêmio Nobel de literatura e essas coisas todas.

Comecei Do amor e outros demônios ainda em Curitiba, um pouco antes de vir pra cá. Não tava preparado pra ele ainda, foi difícil começar. Mas cara, ler deitado numa rede sentindo a brisa do mar é tão bom quanto clichê. Gabriel García Márquez desceu como água. E foi legal. Não preciso dizer o quanto o autor é bom, toda a crítica faz isso há anos. Só queria ressaltar a habilidade que o cara tem de criar algo crítico, cruel, inteligente e sensível, tudo ao mesmo tempo! Pouca gente consegue fazer isso. Ele faz, e faz muito bem. Deixe de ser um preguiçoso como eu, siga os conselhos do meu bom e velho amigo Wilame Prado e leia Gabriel García Márquez!

No meio das minhas férias de trabalhador no litoral, resolvi tirar umas férias das férias e peguei um ônibus para encontrar uns amigos. Durante os 220km da lenta viagem comandada por um motorista vagaroso li O Velho e o Mar, do Hemingway. Esse é outro dos fodões com prêmios, condecorações e citações espalhadas por aí. E tá, até que faz sentido, não é ruim. O que mais me impressionou na real foi a proeza do cara de escrever, sei lá, 90 páginas, sobre a luta de um pescador com um único peixe! Sério, ele faz isso sem ficar cansativo! 90 páginas e um só peixe! Isca, profundidade, fisgada, puxa corda, dá linha, espera o peixe cansar, sabe? Isso aí. O cara é bom.

Quando voltei das férias das férias li, por motivos variados (inclusive uma crítica a minha falta de interesse por poema), Caprichos & Relaxos, do Leminski. Já carregava comigo uma admiração por ele (sabia até dizer de cabeça aquele da pedra, mar, blá blá blá, mar pra tudo quanto é lado), mas nunca tinha lido um livro inteiro dele. Só alguma coisinha aqui, outra ali, do jeito que normalmente leio poema ou mesmo poesia (não to desmerecendo, é sério). Mas pô, a experiência foi legal. Pretendo fazer isso mais vezes, e prometo também estudar mais sobre assunto, aprender a escrever sobre e parar de me contentar com Quadrilha, do Carlos Drummond de Andrade (eu realmente gosto daquele).

E antes que você me diga que eu gostei de tudo que li dessa vez (você não ia dizer, eu sei disso), eu aviso, o Demian, do Hermann Hesse, eu não gostei. Sério, desculpa, mas achei chato mesmo. Cansativo e tal. Li porque é clássico e porque, pessoas em que confio no gosto, tinham me indicado (com o bônus de estar catalogado na categoria “um dos meus livros favoritos” - aí rola uma pressão, né?!). Vai ver não li na época certa da vida. Livros têm disso. Um professor de literatura me disse uma vez “deixe para ler os clássicos quando estiver velho”. Não sei se esse foi o caso. Talvez devesse te lido antes o Demian, talvez não. Que seja. Li e não gostei. Sabe, não é ruim. O começo é até bom. Mas depois vira um pé no saco. Vai ver o problema é essa birra que tenho com pessoas incondicionalmente devotas a “mentores”.

Nunca tinha lido nada do John Fante (se alguém quiser me dar o Pergunte ao Pó de presente eu vou achar legal, bem legal). Meu primeiro encontro com ele foi agora, com o 1933 foi um ano ruim, um livro curtinho que conta a história de um garoto, filho de pedreiro, que sonha em ser a nova promessa do arremesso no beisebol. Não sei se dei sorte e comecei por um bom (o que eu duvido), mas eu realmente gostei do livro. Essa pegada beat, o estilo despojado e a narrativa rápida me conquistaram. Já coloquei de meta para o próximo ano ler várias outras coisas dele.

Para fechar essa última edição “surpresa” de 2010: Charles Bukowski. O responsável por me dar a última rasteira do ano (pô, se eu levar outra até amanhã, depois de tantas ao longo do ano, vou ficar realmente puto). Notas de um velho safado é uma coletânea de colunas publicadas originalmente pelo autor no Open City, um jornal alternativo que John Bryan criou depois de se demitir do e/ou ser demitido do L.A. Free Press.

Como eu já disse, foi com esse livro de colunas que eu percebi que essa aqui era uma merda. Bukowski é bom, ligeiro, cruel e não tem medo de escrever pau, cu ou boceta. Manda vê no que pensa, diz sem medo, revela seus problemas, pensamentos, estórias e opiniões. A coluna dele é viva, às vezes depressivamente viva, mas é de um jeito natural, como as coisas realmente são. Faz sentido isso? Além disso, ele é chato, ranzinza e sujo, características que me agradam muito.

É verdade que nem todas as colunas me agradaram, algumas até conseguiram me entediar, mas o lance é que tem tantas outras boas (boas o suficiente para te vender uma idéia com uma só frase) que você acaba gostando do livro como um todo. Depois de ler ele, por exemplo, já até mudei minha concepção de museus. Quero um bar e uma banda de rock em cada andar! Enfim, se você tá precisando de uma rasteira para começar bem (?) o próximo ano, corre que ainda dá tempo de ler as Notas de um velho safado.

Bom, agora eu paro por aqui. Já tenho mais algumas coisas sobre o que escrever (como aquela louca da Anaïs Nin que tá destruindo minha cabeça doentia), mas elas vão ficar para o próximo ano. Queria aproveitar e pedir desculpa a você, querido leitor. Eu sei que às vezes não entendo quem é meu público alvo (e a verdade é que eu nem tenho um). O lance é que você, que eu sei que lê isso aqui, entende mais disso tudo do que eu. Você deveria ter um blog para indicar coisas legais! Seríamos todos felizes assim. Pense nisso com carinho para o ano que vem. Até lá.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

#7

Ô aninho desgraçado. Mas 2010 tá acabando e, apesar não de criar muitas expectativas para 2011, espero que chegue logo. Mas o que você e esse blog tem com isso? Nada. Só queria deixar esse comentário caso eu não publique mais nenhuma edição esse ano. E é claro que eu não vou. Já é quase natal e a cada edição eu demoro mais para escrever alguma coisa. A verdade é que a #8 pode sair só em fevereiro, isso se ela sair.

Enfim, vamos lá. Nesse final de ano, por vários motivos, eu pirei em filmes. Vi vários, mas vou deixar quase todos de fora dessa edição. Escolhi para comentar apenas As melhores coisas do mundo, Muita calma nessa hora e Chuvas de verão. Os livros da vez são Persépolis, da Marjane Satrapi e É claro que você sabe do que estou falando, da Miranda July.

As melhores coisas do mundo é mais um fruto da parceira de Laís Bodanzky e Luís Bolognesi, ela como diretora e ele como roteirista. Juntos eles já fizeram filmes como Bicho de sete cabeças e Chega de saudade. Mas esse é diferente, ele é despretensioso. Ou não. As melhores coisas do mundo tenta fazer um filme para adolescentes, com cara de adolescente. Uma tarefa que muita gente já tentou fazer e não conseguiu. Pelo menos aqui isso funcionou. Senti mó saudade das festinhas de 15 anos, das batidinhas de morango, do clima de paquera e tantas outras coisas. A nostalgia foi praticamente incontrolável. Se você ainda não viu esse longa, tire todo o medo do seu coração, releve o fato do Fiuk ser um dos atores principais e dê uma chance de peito aberto. É sério, dá para se surpreender.

Depois de Xica da Silva e antes de Bye Bye Brasil, duas renomadas obras do cinema nacional, Carlos “Cacá” Diegues lançou Chuvas de Verão em 1977. Apesar de ser mais discreto que os outros filmes citados do autor, Chuvas de Verão é tão bacana quanto eles. De uma forma sutil, Diegues cria, ao contar a história de um homem que resolve descansar e viver, quando enfim consegue sua tão sonhada aposentadoria, uma trama cheia de personagens interessantes, repleta de estereótipos cariocas.

Muita calma nessa hora era o aguardado longa que trazia em seu elenco quase todos novos e velhos comediantes brasileiros que estão em alta no momento. Além disso, o roteiro é do Bruno Mazzeo, provavelmente o nome mais popular do humor nacional atual, ao lado, claro, do Adnet. Apesar de tudo isso o filme é fraco, bem fraco. As piadas, que por sinal são a aposta central do filme, são dignas de um episódio do Zorra Total e a história em si, só mais uma sessão da tarde. Algumas coisas ainda conseguiram ser divertidas, como a participação do Hermes e Renato, mas de uma forma geral não vale o ingresso no cinema.

Miranda July é uma dessas mulheres com mil talentos diferentes. Recentemente um amigo me emprestou um filme e um livro de contos dela. Ainda não vi o filme, mas o livro é fantástico. É claro que você do que estou falando é simples e intrigante. De uma forma geral, a impressão que eu tive enquanto lia é que estava conversando com uma mulher de uns quarenta e poucos anos que, com naturalidade e inocência, me contava coisas que ela realmente não deveria me contar. Mas não é só isso. Em cada conto ela assume uma postura, um personagem e uma personalidade diferente. Tudo isso sem perder sua identidade.

Persépolis é uma auto-biografia em quadrinhos de Marjane Satrapi, e só por isso já é bacana. A autora nasceu no Irã e vivenciou a guerra e as transformações culturais de seu país. Com o seu livro, além de trazer parte da história de seu país e de seus conflitos, ela, que foi enviada para o exterior para estudar, mostra os choques entre costumes e tradições que enfrentou na prática. Na verdade, Persépolis é muito mais legal do que isso tudo que escrevi, não sei deixe enganar. Se você ainda não escolheu o presente daquele amigo-secreto super maneiro da firma, vai sem dó e compra o livro.

Bom, eu paro por aqui. Se você leu todas as edições publicadas até hoje, muito obrigado. Se você não leu, não tem problema, gosto de você do mesmo jeito. Feliz natal, feliz ano novo e, ano que vem, assim que me animar, publico outra edição. Até lá.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

#6

Mais de um mês depois da última edição, eu voltei. Em primeiro lugar gostaria de pedir desculpas para todas as pessoas que realmente lêem isso e sentiram falta de alguma novidade. Um salve especial para as três ou quatro que entram quase todos os dias. Vocês são legais.

Em segundo lugar, gostaria de me justificar de forma breve: cara, foi um mês difícil. Isso basta, né?!

E agora, vamos direto ao assunto. Nessa edição vou falar sobre os filmes Bye Bye Brasil, Machete e Entre Os Muros da Escola. Os livros escolhidos foram Uma Longa Queda, O Caso do Bolinho e Catecismo de Devoções, Intimidades e Pornografias.

Olha, não vou mentir. Durante esse mês “consumi” muitas outras coisas. Por exemplo, além desses livros ali eu ainda li os dois “Alices”. É que minha irmã foi mais uma dessas vítimas que compraram o box dos dois livros com ilustrações da Helen Oxebury depois de ver o último filme do Tim Burton. Mas não vem ao caso comentar sobre eles aqui, certo?! Quantos aos filmes, acho que fazia muito tempo que não via tantos títulos em um único mês. Mas eram comédias românticas sem importância ou clássicos que todo mundo já viu, então, também vou deixar esses de lado.

E só pra constar, sim, eu me envergonho, mas realmente li O Caso do Bolinho da Tatiana Belinky. Se você não conhece, eu vou explicar melhor o motivo da minha vergonha. O livro é daqueles infantis, recomendados para, sei lá, crianças de sete ou oito anos. Sabe aqueles que têm umas 30 páginas com quatro ou cinco linhas em cada uma?! Pois é, esse é um desses aí. Eu sei que poderia ter simplesmente ignorado aqui na coluna o fato de ter lido esse livro, já fiz isso com outros bem mais aceitáveis e tudo, mas é que o Caso do Bolinho me intrigou.

Sabe qual é o problema, ele tem mó pegada “jacaré marcou virou borsa”, saca?! Vou explicar melhor. A parada é o seguinte, tem um casal de idosos. Ele pede um bolinho, ela faz. O bolinho foge e sai por aí feliz e cantando. No meio do caminho ele encontra e engana uns três ou quatro bichos famintos. Mas aí ele encontra uma raposa que consegue enganar o tal bolinho, e pá, manda vê. Fim do livro. Bizarro, né?! Pô, fiquei pensando se é saudável contar uma criança esse tipo de história. Sabe, “ó, meu filho, não fuja de casa, se não vem alguém e te traça”.

Na verdade pensando agora desse jeito, até que faz sentido.

Tá legal, esqueçam o bolinho. Vamos falar sobre o clássico brasileiro de 1979, Bye Bye Brasil, do Cacá Diegues que, segundo uma breve pesquisa na internet, foi o primeiro longa nacional que atingiu a fantástica cifra de um milhão de dólares. O filme, resumindo de uma forma grotesca, conta a história da Caravana Rolidei e suas peregrinações pelas cidades brasileiras.

Bye Bye Brasil recebe elogios até hoje, principalmente por se mostrar atual. Mas acho ele vai além disso É um filme rico em objetos de análise, principalmente se você é um desses pirados em identidades culturais e coisas do tipo. O lance é que cada personagem foi muito bem criado e, claro, interpretado. O José Wilker manda muito bem como Lorde Cigano, o Fábio Jr. tá no estilão Fiuk de ser e a Betty Faria fica pagando peitinho o filme todo. Se fosse para usar esses clichês da imprensa cinematográfica eu diria que Bye Bye Brasil tem “humor na dose certa e críticas sutís e inteligentes sobre os estereótipos brasileiros”.

Outro filme bacana que eu vi nesses últimos dias foi o Machete. Sabe qual é?! Isso, aquele que era só um trailer migué, mas depois de vários comentários e especulações acabou se tornando real. Cara, pode ser muita pretensão da minha parte, mas vou dizer mesmo assim. Acho que Machete é o melhor filme de Robert Rodriguez. Tá, não vi todos e gosto bastante de alguns dos que já vi, mas esse é extremo.

É um culto aos clichês de filmes de ação. Um misto de trash, cult e humor, tudo em um mesmo lugar. Machete tem tudo o que você pode imaginar. Explosões, sangue, tripas, incontáveis mortes, mulheres nuas, sexo, tiros, motos voadores e frases de impacto dignas de Stallone Cobra. Isso sem contar na ótima escolha dos atores (Danny Trejo, Robert De Niro, Steven Seagal, Michelle Rodriguez, Lindsay Lohan...) que carregam outros clichês por conta própria.

Para fechar os filmes dessa edição, vi também o Entre Os Muros da Escola. Badalado longa francês do diretor Laurent Cantet que fez a cabeça de vários educadores do mundo inteiro. A história é focada na relação professor x aluno e as multiculturalidades existentes dentro de uma sala de aula.

Esse é o tipo de filme ideal para professores e parece que eles já perceberam isso. Tentei indicar para alguns amigos que estão se formando em cursos de licenciatura, mas todos eles já tinham visto. A única pessoa que não tinha me disse com uma voz triste, “é, faltei nessa aula”. Enfim, tá tudo certo. Se você é ou será professor, assista. Pode ser uma experiência bacana e traumatizante.

Mais uma vez li um Nick Hornby. Dessa vez, Uma Longa Queda. Esse é um pouco diferente dos demais. Apesar de citar ao longo do texto alguns autores conhecidos, não são tantas as referências ao mundo pop sempre muito explorado em seus livros. Apesar disso, outra característica marcante em suas obras (e talvez vida), a depressão, é a linha condutora dessa vez.

Uma Longa Queda conta a história de quatro pessoas que, na noite de ano novo, quando pretendiam se matar, se encontram no terraço de um prédio e resolvem se ajudar. O bacana mesmo é o formato do livro. Ele é escrito no estilo de um documentário. Imagine entrevistas com esses quatro personagens, que foram picotadas e organizadas em uma ordem cronológica, fazendo com que eles mesmos contem sua história. É isso aí. Tudo bem, esse não é dos melhores livros do Hornby, mas mesmo assim é bacana.

Esses dias um velho amigo me disse, “finalmente criou um blog de pornografia, ein”. Bom, pelo jeito ele não entrou aqui, mas para não desapontá-lo, caso entre, vou fechar essa edição comentando o Catecismo de Devoções, Intimidades e Pornografias, do Xico Sá. Um livro muito peculiar, assim como seu escritor. A obra é uma espécie de compilação de ensinamentos, dicas e reflexões sobre as pornografias do mundo moderno.

Divido em pequenos capítulos, que às vezes possuem apenas uma frase, o livro que segue o formato de um verdadeiro catecismo. É recheado de referências a grandes escritores que desbravaram essa temática, como Gregório de Matos, Nelson Rodrigues, Marquês de Sabe e Ovídio, e é dedicado a todos os rapazes chupadores de manga e meninas fãs de espigas de milho cozido.

Se você se encaixa em alguma dessas duas características, é fã desses escritores citados acima, gosta das famosas pornochanchadas brasileiras e/ou ouve Roberto, mas queria ser o Erasmo, então, meu amigo(a), leia sem medo o Catecismo de Xico Sá, parafraseando o Tremendão, será um orgasmo inenarrável.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

#5

Demorei dessa vez. E nem é porque li, vi ou ouvi 30 coisas diferentes, foi por pura preguiça mesmo. Nos últimos dias me senti mais chato do que o comum, quando isso acontece não tenho muito saco para arriscar novos títulos e dar chances honestas para qualquer coisa que eu não tenha tanto interesse.

Bom, fiz um esforço e consegui reunir quatro títulos diferentes para essa edição. Os filmes Vadias do Sexo Sangrento, do Peter Baiestorf, e Dirty Money da dupla Alexandre Vianna e Ricardo Koraicho; e os livros Febre de Bola, do Nick Hornby e Lady Sings The Blues, da Billie Holiday. (Viu?! Nada arriscado. Só escolhi coisas que provavelmente me agradariam).

Às vezes vou na sessão de biografias de bibliotecas, sebos e livrarias e fico um tempão tentando decidir sobre quem vou ler, quem vou conhecer e essas coisas assim. Tenho uma queda por elas, tenho vontade de ler todas, não importa sobre quem seja. Se um dia publicarem uma sobre você, fique sabendo que provavelmente vou querer lê-la também. Para essa edição li Lady Sings The Blues, uma autobiografia da Billie Holiday publicada originalmente em 1956, três anos da sua morte.

Desconfio de toda autobiografia. Não que não desconfie das biografias normais, afinal, é difícil ser imparcial quando se escreve um livro inteiro sobre alguém. Mas quando é o próprio autor, escrevendo sobre ele mesmo, a desconfiança naturalmente aumenta. Acho que isso é normal e acontece com todo mundo, mas se não for, bom, então sei lá.

Apesar disso, superei minha cisma e gostei do livro. Achei sincero. Normalmente acho autobiografias sinceras quando o autor escreve com muito orgulho alguma opinião ou acontecimento que se fosse na sua vida, você provavelmente ocultaria do resto do mundo com muito prazer. Mas enfim, achei bacana, dá para se conhecer mais sobre Billie Holiday de uma perspectiva muito mais interessante, que é a dela mesma.

O Nick Hornby da vez foi Febre de Bola, o primeiro dele. Livros são engraçados, eles te levam ao sucesso de uma forma diferente de, por exemplo, os discos. Não é difícil de encontrar um primeiro disco fodão, um segundo meia-boca e um terceiro fraco. Isso é comum no mercado musical. Mas livros não. Nunca se sabe em qual livro o cara vai despontar. Eu acho que o Nick Hornby só vendeu tantos exemplares do Febre de Bola, pelo menos no Brasil, porque na capa tem a frase “o escritor do sucesso Alta Fidelidade...”. Não que o livro seja ruim, pelo contrário, é bacana e eu gostei bastante dele, mas pô, precisou de ajuda do segundo ou terceiro para vender o primeiro. Faz sentido isso?

Tá, tanto faz. Isso não vem ao caso, vem?! Enfim, como já disse, o livro é legal. Porém, acho que se eu tivesse lido há um ano, antes de me mudar ao lado de um estádio de futebol e principalmente, antes de começar a sentar na mesma cadeira em vários jogos seguidos, provavelmente não tivesse gostado tanto. É que o Febre de Bola é uma espécie de autobiografia contada de acordo com os jogos de futebol que marcaram a vida do autor. Ou quase isso.

O que eu quero dizer é que se você não gosta de futebol e não faz a mínima idéia de o que é o Arsenal, provavelmente vai achar o livro chato. Se você gosta do esporte de um jeito normal, talvez você enjoe facilmente dele. Mas se você é um fanático que acha que as fases da sua vida incrivelmente se coincidem com as do seu time de coração, então vai lá, cai de cabeça na leitura que seu olha vai brilhar. E ah, sei que esse também virou filme, mas como trocaram o futebol pelo beisebol eu achei melhor não ver.

Não estou pronto, nesse momento da minha vida, para falar do filme As Vadias do Sexo Sangrento, do Peter Baiestorff. Na verdade, acho que nunca estarei. Não só sobre esse, claro, mas sobre toda a extensa obra do diretor.

Peter Baiestorff é uma lenda viva do terror tosco trash lado-b com peitinho de fora. Bicho, os filmes são uma loucura. Desde que conheci ele, quando o Andye Iore da Zombilly levou o cara até Maringá para uma festa estranha, fiquei curioso para conferir alguma obra. Mas confesso que até então não tinha encarado nada.

As Vadias do Sexo Sangrento foi o primeiro que assisti inteiro e bom, não sei o que achei. O filme é uma mistura de sangue falso com linguiças fingindo ser tripas e intestinos, consciência ambiental com propagandas pró-vegetarianismo e cenas de sexo bizarras com garotas nuas no melhor estilo Pin Up. Mas se você se empolgou com essa última parte eu aviso: Se, por acaso, você se sentir excitado com isso, por favor, procure a ajuda de um especialista.

Para encerrar, vi o ótimo documentário Dirty Money, que conta a história de um grupo de amigos que foram fundamentais na história do skate brasileiro. Ele retrata como alguns skatistas passaram pela crise econômica brasileira da década de 90 (governo Collor), e transformaram o esporte no país. O mais bacana ainda é que o filme foi e é distribuído gratuitamente pelo site dos caras (procura aí no Google que você acha) e tem entre os personagens ícones como Bob Burnquist, Alexandre Vianna, Márcio Tarobinha, Charles Chaves e muitos outros.

Dirty Money é ágil, interessante e bem feito. Tem uma trilha sonora bacana e cumpre bem o objetivo proposto. Não é desses filmes pretensiosos nem nada. É só, como o próprio subtítulo do filme diz, um documentário sobre uma geração que fez transformou o skate no Brasil. Sério, sem medo, vai fundo que vale o download.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

#4

Lembra que na semana passada falei de um livro do Nick Hornby que eu tava doido para ler?! Pois então, tá aí, “Um grande garoto” é o título da semana. Mas isso só porque li o livro e vi o filme. Se tivesse encarado só um deles provavelmente a foto aí do lado seria do “Maus”, do Art Spiegelman.

Mas vamos lá, além desses dois, nessa edição vou falar também do “O conto da ilha desconhecida”, do José Saramago, e dos livros “Ah, é?” e “99 corruíras nanicas”, do Dalton Trevisan. Como já deu para perceber, essa será uma edição praticamente só de livros.

Todo mundo conhece José Saramago, todo mundo respeita José Saramago, todo mundo idolatra José Saramago, e agora, depois que ele morreu, tudo isso aumentou. Só não virou santo porque a igreja católica não tem nada a ver com isso. Na real até tem, mais isso não vem ao caso. O que eu quero dizer é que se até hoje você não leu um Saramago, O conto da ilha desconhecida é o livro ideal para começar. Tenho três bons argumentos para justificar minha afirmação: (1) o livro é super bacana, tem capa dura e umas ilustrações que não fazem muito sentido (ou fazem e eu não entendi nada?). (2) é escrito com espaçamento duplo, fonte tamanho 14 e só tem umas 90 páginas! (3) como é bem pequeno, tem espalhado em vários blogs e sites por aí.

O conto da ilha desconhecida foi publicado originalmente em 1997 e tem todas as características marcantes do autor. Críticas a sociedade em forma de metáforas sempre criativas e originais, parágrafos longos e uma pontuação absolutamente pessoal, como se estivesse narrando oralmente toda a história. Se você resistir e gostar disso tudo, então pronto, está preparado para cair de cabeça nas belas obras de Saramago e se tornar mais um de seus vários admiradores.

Vocês (olha como eu tô metido, já falo no plural) precisam ver como Curitiba fica deserta quando rola um feriado prolongado. Toda a galera desce para a praia. Não sobra nada, ninguém. Foram nessas condições que entrei na onda do Trevisan e li 99 corruíras nanicas e Ah, é?. Eu já não sei mais quais livros dele são coletâneas e quais são de material inédito. Na real, eu nunca soube. Todo que livro do Trevisan que leio tem pelo menos um conto que já li em algum outro lugar. Não que eu tenha lido muitos, só uns quatro ou cinco dos mais 40 publicados até hoje, mas essa sensação tá sempre presente.

Esses dois que li dessa vez são bem parecidos. Contos bem curtos e temas parecidos. Eles falam basicamente sobre amor, sexo, crianças, pássaros, velhos e morte. Às vezes, em um ou outro conto, tenho a impressão que ele deixa escapar um desabafo, uma coisa mais sincera e real, mas na maioria das vezes esses aí são os assuntos abordados mesmo. Não que isso seja ruim. Desde a época do colégio, quando lia os livros selecionados para o vestibular, já cultivava uma admiração pelo trabalho do Dalton. Mas só depois que mudei para Curitiba é que entendi melhor o jeito particular e, porque não, diabólico, que ele tem de enxergar e idealizar a capital paranaense.

Desde aquela edição em que tive vontade de ler algo em quadrinhos venho procurando um bom livro no estilo, até comprei um pela internet, mas ele não chegou. Aí, nessa ansiedade toda, um amigo me emprestou um exemplar com a história completa de Maus, do Art Spiegelman. Não sei muito bem o que dizer, pois, apesar de ser relativamente simples, acho que ainda não digeri completamente. Mas já digeri o suficiente para colocar na minha lista imaginária de “puta livro fodido que vou indicar para meus amigos”, por mais que seja chato esse lance de ficar indicando livros por aí.

Mas saca só o potencial: Maus conta, em quadrinhos (como eu já disse), a história de como Vladek Spiegelman, judeu polonês e pai do autor, sobreviveu ao Holocausto e quais foram as consequências disso no seu relacionamento com a família. E aí, para dar uma quebrada nessa onda biográfica dramática, Art, ironicamente, transforma todos os personagens em animais, de acordo com suas nacionalidades. Se por acaso isso tudo que eu disse não pareceu interessante o suficiente, ignore e fique só com a parte em que digo que é ótimo.

Como já disse, Um grande garoto foi o título dessa edição. O livro é muito bacana. Tem todas aquelas características legais do Nick Hornby, como suas várias referências ao mundo pop e personagens que, de alguma forma, refletem um pouco da sua própria personalidade. Tudo isso em uma linguagem simples, rápida e, mais importante do que tudo isso, bem humorada. Sacou? O humor. Isso é legal. Hornby é um cara que consegue te fazer rir de verdade. Não é daquele tipo que você lê algo e pensa “é, divertido”. Um grande garoto te faz rir de um jeito que você consegue ouvir sua própria risada. E isso sim é bacana.

Nem sabia que existia o filme, aí me falaram que tinha um e eu fui lá e assisti. Sabe, não é ruim. É quase tão divertido quanto o livro e tudo mais, mas, como em quase todas as adaptações do mundo, o livro é melhor. Às vezes eu acho que eles fazem isso de propósito. Outra coisa que me incomoda é a mania besta de querer mudar a história. Tem alguma explicação lógica para isso? Sabe, por que mudar os personagens, o contexto e até os detalhes? Eles trocaram Kurt Cobain por um rapper que eu não lembro o nome, e, pior de tudo, substituíram a frase “eu odeio a Joni Mitchell, caralho” por uma citação qualquer do Jon Bon Jovi! Não faz muito sentido isso, faz?

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

#3

Na semana passada eu disse que nessa edição ia escrever sobre música. E eu até vou, os livros que li foram sobre música, o filme que eu vi foi sobre música, tudo nessa edição é sobre música!, mas olha, vou falar uma coisa, isso foi chato. Passei os últimos dias me segurando para não começar a ler um livro do Nick Hornby que descolei na biblioteca. Quando, por um descuido, pegava ele na mão, minha consciência falava “não, cara (sim, ela me chama de cara), você ainda não terminou aquele outro sobre o Chico”. Maldito Chico! E olha que ele nem foi o meu maior problema.

Mas, tudo bem. Olha só, nessa edição, eu vou falar dos livros “Chico Buarque – História das canções”, “10 anos de Goiânia Noise – Em terra de cowboy quem toca guitarra é doido” e “Rock, nos passos da moda”. O filme da vez é o “Uma noite em 67” e o disco, “Escaldante Banda”, do Garotas Suecas.

Depois de fazer a promessa besta da semana passada eu corri para a biblioteca para procurar alguma coisa sobre música. Me surpreendi quando achei na prateleira o livro 10 anos de Goiânia Noise, do Pablo Kossa. O Goiânia Noise é, provavelmente, o maior festival de música independente do país e todo ano eu planejo uma viagem frustrada para curtir alguns shows por lá. Quando o livro foi lançado, em 2005, (em homenagem aos 10 anos do festival, comemorados no ano anterior) eu fiquei afim de ler, mas assim como tantos outros títulos, fui deixando para depois. Enfim, o fato é que dessa vez eu encarei.

Tudo bem, o Pablo Kossa não é dos melhores escritores que eu já li, e pô, desculpa, mas ao contrário do que o Alexandre Petillo escreve no seu prefácio emocionado, eu duvido que o livro chegue a sua 145ª Edição. Na real, até seria legal uma segunda, com uma nova revisão. Nessa têm alguns errinhos e tudo mais. Mas não é sobre isso que eu quero falar. Eu quero falar de como foi legal ler sobre o Goiânia Noise. Sabe, eu imaginava que o festival era muito maior do que aquilo que encontrei no livro. Conheço os perrengues e todas as dificuldades que um festival independente nacional enfrenta, mas achei que eles já tinham passado por essa fase de tantos imprevistos. Na real, acabei com a impressão de que nunca rolou uma edição 100%. E, pô, se mesmo assim ele já faz todo esse barulho, imagina quando rolar a primeira!

Foi depois dessa leitura simples e rápida que eu comecei a travar minha batalha contra o pós-doutor Tupã Gomes Corrêa (ou Victor Aquino, parece que depois de um tempo ele mudou seu nome). Seu livro, Rock, nos Passos da Moda tem um primeiro capítulo cheio de parágrafos esquisitos e desinteressantes que me custaram uns dois ou três dias. Até cogitei abandonar, mas os capítulos seguintes foram mais legais e abordaram exatamente o que eu esperava deles: uma discussão sobre o rock, a moda e a cultura de massa.

Corrêa, entre outras coisas, usa como exemplo os movimentos punk e hippie para discutir como gêneros musicais, surgidos como uma forma de protesto, perdem seu sentido quando são integrados na produção em série da indústria cultural. Claro, o livro foi publicado em 1989, portanto, tem alguns equívocos, mas nada que altere o resultado final. Eu fiquei imaginado o que Tupã diria sobre o Restart e sua loja virtual que vende até as calças que a banda usa.

O Chico - A história das canções, do Wagner Homem, eu ganhei de aniversário, em fevereiro. Na época li algumas páginas, mas achei meio cansativo. O esquema é assim: tem a letra da música e depois um comentário, contexto histórico ou até uma curiosidade sobre a canção. Ficou mais divertido de ler quando consegui a discografia do Chico Buarque. Mas ainda assim deu pra enjoar. O livro foi feito para um público específico, os chicomaníacos, e a impressão que eu tive é que, o Wagner Homem, sendo um deles, escreveu para causar inveja nos outros. É sério, ele fica tentando se colocar na história, contando coisas desnecessárias como seus encontros, e-mails e sei lá o que mais com o músico.

Nesse meio tempo um site gringo divulgou o disco Escaldante Banda, da banda paulista Garotas Suecas. Depois de, no ano passado (ou 2008, eu não tenho certeza), lançar um EP muito elogiado, eles se transformaram em um dos nomes mais comentados no país e o disco de estréia se transformou em um dos mais aguardados do ano, segundo a imprensa especializada na música independente nacional (se é que existe uma).

Assim que saiu eu ouvi, e como esperava, não achei nada de novo ou inovador. Mas isso não faz do Escaldante Banda um álbum ruim, muito pelo contrário. O disco é muito bacana e entraria fácil na minha lista de melhores discos independentes brasileiros do ano, caso eu tivesse uma. O som da vez da banda é baseado no funk soul brasileiro da década de 70, como Tim Maia, Toni Tornado, Hyldon, Gerson King Combo e, porque não, Roberto Carlos. Praticamente uma década de evolução em relação ao primeiro registro fonográfico da banda (aquele que tinha Corina e Efervescente) que tinha nitidamente influências 60’s como Beatles e Jovem Guarda.

Antes de fechar o conteúdo dessa edição eu resolvi ir no cinema. Descobri que aqui perto de casa tava passando Uma noite em 67, um documentário do Renato Terra e do Ricardo Calil que conta a história do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. Sempre pirei no ano de 1967. A produção musical foi intensa e gerou ótimos discos em vários países. No Brasil, com ditadura militar e um movimento estudantil exigente, não foi diferente.

O filme retrata um pouco disso, os jovens, as vaias, as ideologias, os artistas e a nova cara da música brasileira da época. Mas além disso, o longa mostra também como os diretores da Record só viam o festival como um programa televisivo, e revela que foi o público fervoroso que transformou o evento em algo tão grande e importante na história da MPB. E falando em reação do público, preciso confessar que foi emocionante ver Edu Lobo sendo ovacionado enquanto tocava pela primeira vez Ponteio, a música vencedora daquele ano. Quase tão legal quanto ver a revolta de Sérgio Ribeiro, que de tão vaiado, desistiu de se apresentar, quebrou o violão e arremessou na galera.

Cara, se você gosta dessa galera dos festivais, de MPB, ou apenas se interessa pela história da música brasileira, dá um jeito de ver o filme. É realmente legal, tem entrevistas com Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso, Roberto Carlos e muito mais. E, pô, tente ver no cinema, é mais divertido. Na minha sala tinha um senhor solitário que sempre ria das vagarosas frases do Gilberto Gil.